Se quisermos generalizar esta afirmação a outras áreas, veremos que ela é absolutamente acertada. Pensemos no caso da literatura contemporânea: virou moda incensar Philip Roth, que até já conquistou três Pulitzer. Ora, também é interessante interrogarmo-nos sobre o porquê dessa unanimidade. Repare-se que outro escritor americano, bem mais polémico, parece ter sido esquecido pela crítica: Norman Mailer. A resposta mais óbvia, e também a mais cómoda, consiste em apontar baterias para os lóbis. Outro exemplo: Pérez-Reverte é um sucesso de vendas e parece fazer esquecer Javier Marías...
Repare-se que estamos perante um fenómeno comum a todas as áreas. Afinal de contas, qual o Júri de um Festival que não é insensível a pressões externas? Iosseliani, por exemplo, referia isso mesmo a propósito de um episódio havido num ido Festival de Berlim. Trata-se de algo imanente à natureza humana.
Se é certo que os filmes (ou os livros, ou as músicas) só são maus porque o seu público também o é, cumpre, pois, pugnar pela elevação dos padrões. Algo que, creio, estará nas mãos dos críticos, a quem se pede a separação entre o trigo e o joio. Generalizando um pouco mais, talvez seja, também, oportuno curar de tratar das responsabilidades das distribuidoras. Com efeito, a partir do momento em que o lucro é colocado cegamente a critério reitor da sua actuação, fica claro que os cinemas ditos alternativos não têm grande espaço de divulgação*. A continuar assim, teremos, pois, um lento e progressivo exercício de normalização e homogeneização cultural.
Reinará o pântano intelectual e a consequente preguiça mental: é mais fácil ver cenas movimentadas, repletas de tiros e explosões - e, já agora, com moçoilas de formas voluptuosas e em trajos menores - do que diálogos "estáticos" num qualquer filme. Entre o plano de 10-15 segundos que Hollywood impõe e os planos longos europeus (passe o lugar comum), o espector prefere a comodidade da sucessão rápida de imagens. Pensar incomoda como andar à chuva.Está visto. Aliás, basta reparar no facto de Letters from Iwo Jima não ter sido muito apreciado pela maioria dos espectadores (blogosfericamente falando...), em comparação a objectos menores e desnecessários como El labirinto del Fauno ou Babel.
Sendo assim, cabe perguntar se haverá sequer a hipótese de sonhar com a derrota desta lógica comercialista errada, que, a breve trecho, terá efeitos nefastos sobre todos. Os sinais de alarme estão aí. Talvez seja chegada a hora de os tentar inverter. Concretizando um pouco mais: quantas gerações perdidas para o Cinema serão necessárias em Portugal para que algo mude? Há que esperar, pois, que a máxima do Princípe de Salina não se aplique: É preciso mudar algo para que tudo fique na mesma. Sabe-se que a inércia é a força motriz da Humanidade, mas convenhamos que há limites.
* o mesmo vale, mutatis mutandis, para outras áreas (Literatura, música, et cetera)