Cinema e Política: Z, de Costa-Gavras
A abrir Z, de Costa-Gavras - entre nós traduzido por Z, a orgia do Poder - somos confrontados com um militar que discursa sobre os males do seu tempo. In casu, é comparado o míldio a uma outra praga, mas de origem intelectual, o comunismo que, no seu entender, é sucessor de outros -ismos: anarquismo, bolchevismo, et cetera.
[Ouvindo esse discurso de teor marcadamente fundamentalista e demagógico, não consegui deixar de fazer a ponte para uma determinada forma de fazer política em Portugal geograficamente localizada na dita Pérola do Atlântico e tendo como epicentro um senhor que vem zombando do País há vários anos.]
Fechando o parêntese momentâneo, em Z, filme adaptado em romance homónimo de Vassilis Vassilikos, assistimos à ascensão ao poder dos militares na Grécia, baseando-se, para o efeito, na repressão (que se faz sentir, principalmente, na orquestração do deputado Lambrakis) e na demagogia. É com Z que se inicia uma tradição que dominará os anos 70: o filme político. Todavia, talvez nehum outro tenha sabido estabelecer tão bem o doseamento entre a realidade social e política e os dramas que os vários elementos do enredo vão vivendo. Provavelmente, o segredo da sua fama lendária, a par da esplendorosa banda sonora de Mikis Theodorakis, resida nesse particular.
Como nota final, sublinhe-se que Gavras e o argumentista Jorge Semprún, logo a começar não se coibem de colocar o seguinte aviso no écran "toda e qualquer coincidência com factos ou pessoas reais é intencional". Trata-se de cinema empenhado é certo. Mas, em qualquer caso, é sempre de louvar esta "política de transparência" dos autores do filme. Todos fossem assim.
2 Comments:
A ^"dita pérola do atlântico" faz parte do país, e é um tesouro natural e ao mesmo tempo verdadeiramente contemporâneo, que está no meio do oceano. Quanto ao "senhor que goza do país", com certeza que existirão outros senhores que não têm vocação para a comédia, mas que quando toca a prejudicar a sociedade portuguesa estão na vanguarda!
Parabéns pelo blogue, tem excelente qualidade e recomenda-se vivamente!!!
Não questiono que a Madeira é um tesouro natural. Já no que toca ao seu "regedor", não resisto, de facto, a comparar o seu discurso com o dos militares de "Z". Vendo o filme percebe-se porquê.
O livro ("Z"), publicado pela Europa-América, também é bom, mas o filme de Gavras está muito mais permeado de ironia...
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