Rififi, o ponto de partida
O cinéfilo que se depare com o livro Du rififi chez les hommes de Auguste le Breton, para além de se recordar da excelente adaptação homónima de Jules Dassin, terá o prazer de revisitar o milieu que povoa filmes como Bob le flambeur de Jean-Pierre Melville - em que le Breton coloaborou no argumento - ou Touchez pas au grisbi de Jacques Becker.
Por vezes, a promiscuidade entre literatura e cinema - o exemplo paradigmático será Samuel Fuller, romancista e cineasta - tem destas coisas: foi preciso que um francês conhecesse sucesso com a edição de um livro sem ter de se socorrer de pseudónimos anglo-saxónicos - algo brilhantemente parodiado entre nós por Dinis Machado, perdão Dennis McShade - para que a produção de policiais disparasse. O resultado é por demais conhecido: a França pode gabar-se de ter um Jean-Pierre Melville, cineasta absolutamente perfeccionista, o rei do cool e, mais importante, alguém capaz de desconstruir o noir, tal como Leone fizera com o western.
O Noir, tal como o western, para além de ser um género cinematográfico por excelência, tem a virtualidade de abarcar tudo o que se quiser abordar, tal é a sua plasticidade e elasticidade. No caso do Cinema Francês, o noir, corporizado em Bob le flambeur, acabou por ser o primeiro filme formalmente pertencente à Nouvelle Vague. Corria o ano de 1955. E não é por acaso que Godard, Truffaut e Chabrol se revelaram grandes fãs do género.
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