terça-feira, maio 30
domingo, maio 28
Um local solitário
"I was born when she kissed me
I died when she left me
I lived a few weeks while she loved me"
A cobardia em exame
quarta-feira, maio 24
Cinegenia
Alain Delon foi dado a conhecer ao Mundo enquanto actor em 1960, tendo-se afirmado de imediato como uma das principais estrelas do cinema francês.
Todavia, ficará célebre com o seu périplo italiano: trabalhou com Visconti (Rocco e i suoi fratelli e Il Gattopardo) e Antonioni (L'Eclise), tendo regressado à França Natal para alcançar o sucesso merecido. O seu desempenho em filmes policiais valeu-lhe o reconhecimento popular, salientando-se Le cercle rouge e, sobretudo, Le Samouraï, ambos de Jean-Pierre Melville. Se o imaginário do cinéfilo estava preenchido pelo angelical Rocco ou pelo apaixonado Tancredi, o rude e frio Jeff Costelo permanecerá como um dos seus melhores desempenhos.
Em data mais recente, foi o protagonista de Nouvelle Vague de Jean-Luc Godard, naquele que é, sem margem para dúvidas, o reconhecimento da sua importância para o cinema francês e, também, Mundial.
Conforme dizia em comentário há alguns dias: da mesma forma que há pessoas fotogénicas, há pessoas "cinegénicas". Delon é, certamente, um desses casos.
Alain Delon em Rocco e i suoi Fratelli
domingo, maio 21
As palavras de um Mestre*
Jean-Pierre Melville
E agora para algo completamente diferente...
i) Tenho colaborado com o Blog Blog Blog, tendo sido publicado dois textos meus até à data:
ii) Fui honrado com uma carta aberta (em resposta a um texto meu), a cujo autor, Miguel Domingues, faço a mais do que devida vénia (salvé companheiro!):
A escrita sobre cinema no Amarcord seguirá dentro de algumas horas. Mais coisa, menos coisa.
quinta-feira, maio 18
Cardinale, uma Força da Natureza
terça-feira, maio 16
Todo o Mundo numa bicicleta
Ad provocationem VI
sábado, maio 13
Casablanca
"Quem o vir impassível ou já perdeu a alma, ou já perdeu o coração, ou já perdeu ambos. É ser humano de companhia a evitar cuidadosamente." João Bénard da Costa in Folhas da Cinemateca
quarta-feira, maio 10
A persistência da memória
domingo, maio 7
Uma Guitarra do tamanho do Mundo
Muitos são os filmes que se podem definir pela sua banda sonora. Um deles será, certamente, Verdes Anos de Paulo Rocha, retrato agridoce de uma Lisboa simultaneamente urbana e provinciana, uma Lisboa que oprime, que é hostil, vazia e desértica.
Sobre o desenrolar dessa trama, a desventura de Júlio e Ilda, sobressairá em primeiro plano, o som único da Guitarra de Paredes. Uma guitarra que nos embala, infligindo-nos a dor da morte, o calor da alegria, o vazio da solidão. A mesma Guitarra que acompanha estes jovens sem destino nem rumo, condenados ao desentendimento e à tragédia. E se a beleza estética das imagens de Verdes Anos é inegável, sobressaindo a quase omni-presente esplanada do Vá-Vá, centro operacional de reuniões do Novo Cinema Português, será sempre o som do Mestre a guiar-nos. Paredes, homem de gesto tímido, dotado de uma simplicidade inaudita e virtuoso da guitarra.
Voamos sobre Lisboa, topamos com a vertigem e dureza dos sentimentos. Sentimo-nos humanos e descobrimos todo um Mundo num simples acorde ou dedilhar de cordas. O mesmo Paredes que acompanhará a caminhada solitária de Andreia pelas ruas de Lisboa (em Os mutantes de Teresa Villaverde), fazendo-nos sentir toda a dor da mãe adolescente, pequena criminosa e ser humano votado ao esquecimento.
E é essa a magia de Paredes. Todo o espectro de sentimentos está em cada um dos seus acordes, lembrando-nos da nossa condição de Ser Humano. Uma guitarra que não é, apenas, lusa, mas, também, Universal, tal comos todos os sentimentos que nos faz experimentar a cada vez que a ouvimos.
sexta-feira, maio 5
O deserto da Alma
Perturbador, perturbante e obsessivo.
Paris, Texas é uma das mais desconcertantes viagens às profundezas da Alma Humana, espelho de memórias, oceano de incertezas e vazio de afectos. Algo que, logo desde o início se pode antever com as belíssimas panorâmicas do deserto texano, em perfeita simbiose com a simples e pungente banda sonora de Ry Cooder, fazem a ponte entre o verdadeiro deserto e a total ausência de memórias de Travis, viajante do deserto, fugitivo e peregrino à procura do seu Ser.
Incapaz de falar, Travis (sensacional Harry Dean Stanton), mau grado ser "redescoberto" pela família, procurará sempre a fuga em frente. A Humanidade perturba-o e, como tal, apenas lhe resta a estrada para o vazio.
De forma magistral, Wim Wenders, naquele que poderá ser definido como um excepcional exercício psicanalítico, fornece-nos, gradualmente, as chaves para o deslindar desse mistério. Um exercício em que a alienação será personagem principal. Desde o deserto do Texas, passando pela vastidão da paisagem durante as inúmeras viagens, teremos um dos mais perfeitos retratos da alienação social e emocional. Algo que é feito através da desconstrução do road movie clássico (de que Easy Rider também tinha sido exemplo de desconstrução) e do progressivo desenvolver de relacionamento humano de Travis.
A mesma alienação que, em paralelo com os sentimentos de Travis, veremos reflectida quer na paisagem, quer nos inúmeros planos de Houston onde podemos ver o deserto urbano: grafitis, grandes prédios, num ambiente que oprime e obsta ao relacionamento.
Natassja Kinski e Harry Dean Stanton em Paris, Texas
E aí temos um momento de verdadeira catarse. Travis encontra a ex-mulher, agora a trabalhar num peep show, e num momento agridoce explica o porquê do abandono do lar: amor obsessivo. Um amor que o levou a abandonar todos os empregos para estar com a mulher, que o levou a algemá-la, acorrentá-la, a ter ciúmes...até ter atingido a total ausência de sentimentos, momento em que abandona o lar, à procura do grande desconhecido, irmão gémeo da sua Alma.
Um relacionamento temporário, já que após a reencontro entre mãe (uma enigmática Natassja Kinski) e filho, Travis regressa ao grande vazio. E nunca deixará de ser curioso o facto de o pomo da discórdia e motivo para a separação (o filho do casal), anos mais tarde, ter impelido Travis a procurar a mulher, para a voltar a ligar ao filho.
Apenas ele, homem alienado e desprovido de sentimentos não terá lugar nesse quadro. E a consciência de que não tem lugar numa familia feliz é a mais dura das sentenças que alguém se pode auto-impor.
Travis não foi votado ao ostracismo. Ele próprio é que se desligou de tudo e de todos.
terça-feira, maio 2
Viver cinematograficamente ou da solidão do cinéfilo
Le cinéma substitue à notre regard un monde qui s'accorde à nos désirs
André Bazin
Qualquer cinéfilo está perfeitamente habituado à rotina de se encaminhar sozinho para uma sala de cinema. Acto de militância ou não, a tentativa de encontrar refúgio numa sala escura onde são projectados bonecos de luz (na doce expressão de Romeu Correia) mais não é do que uma fuga da realidade.
Procuramos encontrar um porto de abrigo, algo a que nos possamos apegar, mas, lá no fundo, não deixamos de ser, também, Cinema. Godard mostrou-o brilhantemente ao apontar a sua câmara de forma directa para o espectador em Le mépris. Mas não era preciso tanto.
Acontece que o refúgio que procuramos, o mais das vezes, redunda num avolumar das dúvidas. Vimos? Não vimos? Será que a realidade que vemos é, efectivamente, aquela que nos é mostrada ou haverá algo para além do que vemos e sentimos, como demonstrou Antonioni no perturbante Blow up? Mas, mau grado o adensar das dúvidas, não deixamos de ser impelidos para a sala escura. É o fascínio, a mística, enfim, a curiosidade da criança que temos em nós. E será sempre com um brilhozinho nos olhos que veremos a sucessão de imagens projectadas, hologramas animados, espectros que nos assombram, fantasmas que nos perseguem.
É um Mundo que satisfaz os nossos desejos e, ao mesmo tempo, espicaça a nossa curiosidade. Fugimos da realidade quotidiana e passamos a fazer parte de outra. Somos cinema, pensamos cinema e - pasme-se! - chegamos ao ponto de viver cinematograficamente. Sem dar conta disso somos envoltos numa teia intrincada de personagens que nos assombram e consolam. Somos cinema e, num acto egoísta, acabamos muitas vezes por recusar companhia para ver Cinema. É certo que muitas vezes esta é interessante, transformando o pior dos filmes em algo bom, mas o vício cinéfilo impele-nos para a solidão. Afinal, não é só a escrita, como dizia José Cardoso Pires, um acto solitário. Ver Cinema também o é.
Uma vez acabada a projecção e acesas as luzes, abandonamos o nosso santuário, não sem que desçamos a avenida e voltemos a casa com o espírito enriquecido quer pelo que vimos, quer pelo que reflectimos. Uma doce e quente alegria enche-nos a alma e, concomitantemente, o grande vazio assola-nos. Uma coisa é certa: o cinema não acabou com o fim da projecção. Continua em nós, atormentando-nos e consolando-nos.
BB
Je t’aime totalement, tendrement, tragiquement