sábado, maio 13

Casablanca

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman em Casablanca

"Quem o vir impassível ou já perdeu a alma, ou já perdeu o coração, ou já perdeu ambos. É ser humano de companhia a evitar cuidadosamente." João Bénard da Costa in Folhas da Cinemateca
Em Casablanca lidamos com todo o tipo de pessoas: espiões, refugiados, bandidos, oficiais Nazis e da França de Vichy. Um dos principais centros desta cidade cosmopolita e perigosa é o "Rick's", bar onde viremos a conhecer um homem frio e distante, que não deixa de mostrar desprezo pelos nazis (Rick, numa das performances inesquecíveis de Humphrey Bogart).
Será em Casablanca, porta do deserto e do degredo para uns (como Rick) e antecâmara da libertação para outros tantos (como Ilsa), que teremos o privilégio de ver uma das mais belas histórias de sempre: a história de Rick e Ilsa (deslumbrante Ingrid Bergman). Uma relação que tem como despoletador o inesquecível As time goes by. A canção que marcou os dois apaixonados, numa idílica Paris, a Paris boémia e dos cafés, cidade luz e cidade dos amantes (we'll allways have Paris dirá Ilsa).
Uma Paris que conhecemos num belo flashback, em que contrasta o desespero do Rick de Casablanca (motivado pela audição de As time goes by) com a alegria venturosa daqueloutro de Paris. E é este um dos cernes de Casablanca: Casablanca será a cidade dos contrastes, plena de peripécias e de personagens curiosas. E tal como vimos a saber que Rick e Ilsa têm um passado, As time goes by terá a virtualidade de chamar a atenção para o facto de todos terem passado. Todos foram a Casablanca por algum motivo, seja para alcançar um futuro venturoso ou para exorcizar os fantasmas que os acossavam.
Para além disso, teremos algo mais óbvio: Casablanca é um mini-teatro do conflito Mundial que à data se desenrolava (algo que, aliás, o genérico inicial já anunciava). Efectivamente, estará sempre latente a tensão entre totalitarismo (o III Reich) e liberdade (os EUA), tendo como pano de Fundo a neutralidade da França de Vichy. E, deste modo, Michael Curtiz, a par de uma belíssima história de amor, coloca a tónica em algo mais vasto e mais preocupante: a guerra, não sendo despicienda a célebre cena em que no Rick's se canta A Marselhesa, naquele que é um piscar de olho memorável para La Grande Illusion de Jean Renoir.
Será este acumular de peripécias, de temas e de personagens uma das imagens de marca deste filme intemporal. Tal como permanecerá intemporal o súbito acordar de consciência de Rick, prevalecendo o dever sobre o Amor. Rick é, de certo modo, um herói pícaro ou, se se preferir, um anti-herói. E tal como em La Grande Illusion a solidariedade humana prevalecia, Casablanca não deixará de reiterar a mensagem: o Capitão Renault, fiel colaborador dos Nazis acabará por ajudar Rick, naquele que é o princípio de uma bela amizade. E, novamente, veremos Rick a entrar nas brumas, desta feita não nas brumas de um passado obscuro e triste, mas na clandestinidade da Resistência.
Casablanca é o arquétipo do studio sistem, tal como é o protótipo de tudo aquilo que um filme deve ter: Amor, traição, comédia, suspense e, acima de tudo, Humanidade. E como nunca é de mais repetir:
"(...)
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny
It's still the same old story
The fight for love and glory
A case of do or die
The world will always welcome lovers
As time goes by"
Herman Hupfeld

4 Comments:

Blogger Daniel Pereira said...

É, de facto, um filme com muito mais do que aquilo que lá está, à primeira vista. Aliás, apontaste isso muito bem, pouca gente fala nesse aspecto. E percebo porquê.

Percebo porque, também eu, não consigo ver "Casablanca" nesses moldes; vou apanhando uma coisa ou outra nas várias vezes que já vi o filme. Porque só tenho olhos para Bergman e Bogart. Só me interessa o estilo, aqueles interiores, Bogart só precisa aparecer, Bergman deslumbrante - basta ao Curtiz enquadrar minimamente. Só me interessa a história de amor que sigo colado às personagens, sofrendo com elas. As frases que ficam.

E depois, de vez em quando, há ali nazis, franceses...

12:56 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Um grande, grande Filme! Um marco na história do Cinema.

3:54 da tarde  
Blogger Hugo said...

Muito tem sido escrito sobre o porquê do mito "Casablanca", mas, cada vez mais, acho que o sucesso radica, em muito, na tom humano, credível e sensível com que Curtiz conta a história.

Se depois juntarmos um argumento genial (comédia, amor, traição, crítica social...está lá tudo) a actores magníficos, temos a receita perfeita.

E sim, Daniel, de vez em quando há por ali Nazis, franceses...o que verdadeiramente importa é Rick e Ilsa (e tão fortes que são as deixas de Rick). Se o filme fica em brasa com a entrada de Bergman, cada vez que Rick fala, temos mais um rude golpe lançado à nossa consciência...

Uma mistura explosiva e verdadeiramente memorável. "We'll always have Paris", todos temos o nosso lugar mágico. Casablanca é, certamente, um desses lugares.

Saudações!

11:25 da tarde  
Blogger C. said...

Penso em Casablanca e logo inúmeros diálogos e cenas me surgem na memória... que filme!

1:33 da tarde  

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