domingo, maio 7

Uma Guitarra do tamanho do Mundo

Rui Gomes e Isabel Ruth em Verdes Anos

Muitos são os filmes que se podem definir pela sua banda sonora. Um deles será, certamente, Verdes Anos de Paulo Rocha, retrato agridoce de uma Lisboa simultaneamente urbana e provinciana, uma Lisboa que oprime, que é hostil, vazia e desértica.
Sobre o desenrolar dessa trama, a desventura de Júlio e Ilda, sobressairá em primeiro plano, o som único da Guitarra de Paredes. Uma guitarra que nos embala, infligindo-nos a dor da morte, o calor da alegria, o vazio da solidão. A mesma Guitarra que acompanha estes jovens sem destino nem rumo, condenados ao desentendimento e à tragédia. E se a beleza estética das imagens de Verdes Anos é inegável, sobressaindo a quase omni-presente esplanada do Vá-Vá, centro operacional de reuniões do Novo Cinema Português, será sempre o som do Mestre a guiar-nos. Paredes, homem de gesto tímido, dotado de uma simplicidade inaudita e virtuoso da guitarra.
Voamos sobre Lisboa, topamos com a vertigem e dureza dos sentimentos. Sentimo-nos humanos e descobrimos todo um Mundo num simples acorde ou dedilhar de cordas. O mesmo Paredes que acompanhará a caminhada solitária de Andreia pelas ruas de Lisboa (em Os mutantes de Teresa Villaverde), fazendo-nos sentir toda a dor da mãe adolescente, pequena criminosa e ser humano votado ao esquecimento.
E é essa a magia de Paredes. Todo o espectro de sentimentos está em cada um dos seus acordes, lembrando-nos da nossa condição de Ser Humano. Uma guitarra que não é, apenas, lusa, mas, também, Universal, tal comos todos os sentimentos que nos faz experimentar a cada vez que a ouvimos.
Tão Universal, que chega ao ponto de (também) ser Cinema.

3 Comments:

Blogger Francisco Mendes said...

Palmas efusivas Hugo, pela homenagem a Paredes. Já não bastava o teu recanto albergar o título de uma das minhas obras de Culto do senhor Fellini para me fascinar, como também deparar-me com uma escrita talentosa.

É por estas e por outras que a blogosfera é uma aprazível galáxia cibernauta.

1:41 da tarde  
Blogger Hugo said...

Escrita talentosa? Onde? Como dizia o grande Barreirinhas: "olhe que não, olhe que não".

E, uma vez mais, expresso o meu penhorado agradecimento pelas palavras tão simpáticas!

abraço!

3:13 da tarde  
Blogger C. said...

Olhe que sim, olhe que sim! ;)

4:48 da tarde  

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