"Then comes the long intestinal progress. The body, the heart of the matter, is full of excrement. Yet that's not where horror resides; that aversion - the repulsion for sgit - was instilled in us from earliest childhood, so the long progress is familiar and repetititve, like our daily progress. I believed, already tired of what seemed simplistic, somewhat childish provocation. So I thought, keeping a safe distance. But, of course, that's exactly what's at stake: the roots of good and evil in the virginsoil we all begin with, that soil made fertile, yes, fertile, by excrement"
Catherine Breillat, cineasta
Perverso? Sim. Horrível? Com certeza. Perturbador? Não haja dúvidas.
Salò é tudo isso, mas, também, uma obra-prima, capaz de metaforizar na perfeição a pós-modernidade, aquela sociedade onde tudo tem um valor venal. Não só o conhecimento como bradava Lyotard, mas, literalmente, tudo. O corpo, inclusivé. Daí que Salò, essa metáfora sádica, tenha de ser vista antes de cair o chorrilho de críticas. Afinal, Pasolini, o cineasta não-cineasta consegue aqui alcançar a perfeição da sua estética: total depuração, enquadramentos que fazem lembrar pinturas renascentistas. Tudo é uma quadro grotesco onde a câmara - e, consequentemente, o espectador - é colocada a uma distância segura, neutra. O objectivo confesso, esse, é perturbar. Fazendo-o, consegue o objectivo. Descreve o Mundo tal como ele é e lembra que o poder, desregrado, gera anarquia.