sábado, agosto 9

Delírios violentos

De punhos no bolso, de punhos cerrados e com o olhar perdido no vazio. O gesto mais comum das personagens de I pugni in tasca.
Uma família cuja mãe cega é incapaz de administrar e controlar. Resumir-se-ia assim I Pugni in tasca, de Marco Bellochio. Será esta, também, a metáfora para caracterizar a Itália dos anos 60 nesta viagem violenta às profundezas da loucura, onde vemos crescer lentamente uma doença mórbida que se transforma na mais perfeita normalidade: a incapacidade de relacionamento, a comunicação feita pela agressão, a claustrofobia familiar. Um cadinho de sentimentos contraditórios que causam incómodo. Não só porque são um libelo acusatório contra uma classe, mas também porque mostram inelutavelmente o efeito da autodestruição e da incapacidade de reagir à inércia.
Personagens de rosto duro e apagado, tal como o universo onde habitam. Um mundo de sombras onde nos perdemos e, simultaneamente, damos por nós a encontrar o Cinema na sua pureza: na paixão com que é filmado e na total ausência de artifícios para reflectir sobre o Mundo envolvente.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Nâo sei se o filme é bom, gosto do que escreves como escreves e o descreves. Gosto da forma séria e sincera com que falas das tuas paixões ou desgostos no grande ecrã. Deixas-me quase sempre com água na boca e curiosa. Um abraço Hugo.

12:12 da tarde  

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