A América de Tarantino
Dura, violenta, decadente e racista, a América de Tarantino é um retrato duro e cru da mentalidade do povo da maior potência mundial da actualidade. Tarantino, tal como muitos americanos, é o produto de uma cultura muito própria: filmes de artes marciais, westerns, filmes de terror (com muito blood and gore), tal como é a América do fast food (McDonald's à cabeça), da facilidade do acesso às armas e dos carros grandes...bem como a América da imigração, com inúmeras comunidades hispânicas e asiáticas. Toda essa realidade perpassa pelo seu cinema, mas sob as vestes da violência. Tal como a sociedade americana é violenta, também o é o cinema de Tarantino, produto dessa tensão latente na realidade envolvente.
Em Tarantino vemos uma sociedade eclética e conflituosa, pronta a disparar ou a ter um ataque de violência. E é nas alturas em que vemos esse brotar da violência que sobressai a sua estética particular. Com uma inspiração óbvia do giallo (fazendo lembrar, por vezes, Dario Argento), em que Pulp fiction será a referência mais óbvia, o espectador tem o privilégio de ver a estética da morte, com sangue, balas, espadas e muito sangue, sempre ao som de bandas sonoras adequadas (aliás, e este um ponto curioso, as bandas sonoras de Tarantino ficam a meio caminho entre o revivalista e o avant garde).
Ora, o Cinema de Tarantino, cuja qualidade é inquestionável, sob as vestes desta violência extrema, mais não é do que uma metáfora da América onde nasceu e tão bem conhece. Acontece que, mau grado as suas referências pop, Tarantino não caiu na lógica do filme fácil ou menor. Pelo contrário, a não linearidade das histórias que nos são contadas, em clara contraposição com os diálogos directos e acutilantes, mais do que uma imagem de marca, são um dos seus traços autorais. Outro prende-se com o facto de ser fã confesso de Sergio Leone, Tarantino brinda-nos com planos que nos fazem lembrar o mestre italiano: com frequência vemos grandes close ups seguidos de planos direccionados sobre a vastidão da paisagem.