O sonho comanda a vida
Klaus Kinski em Fitzcarraldo
Se houvesse que descrever Fitzcarraldo numa única palavra, ela seria, com grande probabilidade: sonho. O sonho de construir uma ópera em plena Amazónia comandou Brian Sweeney Fitzcarraldo. Sonho já de si megalómano, a ambição foi reforçada com o desejo de estrear essa ópera com a presença de Caruso e Sarah Bernhardt. Fitzcarraldo é precisamente um filme sobre sonho e ambição desmedida. Todavia, desta feita não topamos com a ambição de glória eterna de Aguirre. Pelo contrário, vimos um sonho megalómano dominado pela paixão. O amor à Arte e à Ópera levaram a que um homem simples combatesse contra tudo e todos para levar o seu sonho avante.
Vimos o avanço da obsessão, levando Fitzcarraldo às portas da loucura. Mas, a final, tudo lhe é perdoado. O sorriso triunfal, contemplando as margens do rio e os músicos a chegar, são o seu prémio. Todo o sonhador não deseja retribuições monetárias. Fica-se pelo prazer indescritível de ver ganhar forma aquilo que tivera idealizado. É quanto basta.
A ópera fez-se em Iquitos, um território unicamente habitado por índios. Pelo meio vimos todas as peripécias possíveis: desde as difíceis negociações com os barões da borracha, passando pela rocambolesca expedição pela selva amazónica. Em Fitzcarraldo tudo é poesia: desde os inúmeros planos em que Herzog filma o Amazonas, passando pelas sequências da floresta profunda. Poesia acentuada pelas árias de Ernani de Verdi e de I Puritani de Bellini, capazes de levar o espectador para além da beleza agreste da Selva, sendo embalado no puro onirismo da obsessão de Fitzcarraldo. Vimos um Fitzcarraldo deificado: a sua impecável roupa branca está sempre em contraste gritante com a sujidade da Selva. De certo modo, Herzog mostrou-nos que aqueles que sonham são puros, sendo-lhe perdoados todos os ataques de fúria quando motivados por um fim nobre. Daí que lembrar a Pedra Filosofal de António Gedeão não seja descabido: Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida...
Fitzcarraldo brindou-nos com um excepcional - uma vez mais! - Klaus Kinski, mas, acima de tudo, mostrou-nos que sonhar não é proibido. Pelo contrário, o sonho deve ser incentivado, mesmo que o sonho seja megalómano. Ademais, Fitzcarraldo tem ainda a virtualidade de nos trazer à memória dois pontos importantíssimos: a Arte terá sempre lugar nas nossas vidas, dado que é ela que nos faz abstrair do "aqui e agora" em que estamos, tal como lembra que há sempre lugar para incentivar a imaginação e a criatividade. E, no fim, dá vontade de gritar em plenos pulmões o nosso objectivo. Foi o que Fitzcarraldo fez: Ich werde eine Oper bauen!
E o vosso, qual é?
Vimos o avanço da obsessão, levando Fitzcarraldo às portas da loucura. Mas, a final, tudo lhe é perdoado. O sorriso triunfal, contemplando as margens do rio e os músicos a chegar, são o seu prémio. Todo o sonhador não deseja retribuições monetárias. Fica-se pelo prazer indescritível de ver ganhar forma aquilo que tivera idealizado. É quanto basta.
A ópera fez-se em Iquitos, um território unicamente habitado por índios. Pelo meio vimos todas as peripécias possíveis: desde as difíceis negociações com os barões da borracha, passando pela rocambolesca expedição pela selva amazónica. Em Fitzcarraldo tudo é poesia: desde os inúmeros planos em que Herzog filma o Amazonas, passando pelas sequências da floresta profunda. Poesia acentuada pelas árias de Ernani de Verdi e de I Puritani de Bellini, capazes de levar o espectador para além da beleza agreste da Selva, sendo embalado no puro onirismo da obsessão de Fitzcarraldo. Vimos um Fitzcarraldo deificado: a sua impecável roupa branca está sempre em contraste gritante com a sujidade da Selva. De certo modo, Herzog mostrou-nos que aqueles que sonham são puros, sendo-lhe perdoados todos os ataques de fúria quando motivados por um fim nobre. Daí que lembrar a Pedra Filosofal de António Gedeão não seja descabido: Eles não sabem nem sonham, que o sonho comanda a vida...
Fitzcarraldo brindou-nos com um excepcional - uma vez mais! - Klaus Kinski, mas, acima de tudo, mostrou-nos que sonhar não é proibido. Pelo contrário, o sonho deve ser incentivado, mesmo que o sonho seja megalómano. Ademais, Fitzcarraldo tem ainda a virtualidade de nos trazer à memória dois pontos importantíssimos: a Arte terá sempre lugar nas nossas vidas, dado que é ela que nos faz abstrair do "aqui e agora" em que estamos, tal como lembra que há sempre lugar para incentivar a imaginação e a criatividade. E, no fim, dá vontade de gritar em plenos pulmões o nosso objectivo. Foi o que Fitzcarraldo fez: Ich werde eine Oper bauen!
E o vosso, qual é?
2 Comments:
"abstrair" ou ir para além de...?
são estes filmes, estas cenas, estas imagens, estas interpretações e a presença de brecht que me metem um sorriso nos lábios na solidão contentinha e concorrida de uma sala de cinema.
As duas... :)
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