segunda-feira, janeiro 30
domingo, janeiro 29
sábado, janeiro 28
La Grande Illusion
sexta-feira, janeiro 27
Once upon a time in the West
Porquê pós-moderno? Porque faz uso como poucos da citação cinéfila: todos os grandes Westerns estão lá devidamente identificados (High Noon, Johny Guitar e Shane são algumas das fontes). Porquê um obra de arte? Porque a forma magistral como o Oeste é filmado faz com que fiquemos colados à acção. Mas estamos a falar de um filme de Leone e, como tal, temos os clássicos close-ups (quem se esquecerá do enorme plano dos olhos de "Harmonica" (Charles Bronson)??) sobre os actores seguidos de amplos planos sobre a paisagem (a chegada de Jill (deslumbrante Claudia Cardinale) à estação e a panorâmica de uma cidade em construção em crescendo com a música de Ennio Morricone é arrepiante)...
Em "Aconteceu no Oeste", Leone não se coibe de, verdadeiramente, lançar um olhar amargo sobre o progresso. Já não topamos com a caçada louca a $ 200.000, mas sim o avanço da ferrovia no Velho Oeste e a consequente necessidade de "limpeza" de tudo o que se põe no seu caminho. É aí que conhecemos o poderoso Morton (Gabrielle Ferzetti, o mesmo de "L'Avventura de Michelangelo Antonioni) que, mau grado o seu poder, vive fechado num vagão pois tem os ossos corroídos. Trata-se, obviamente, de uma clara metáfora da visão de Leone sobre o poder e o capitalismo selvagem: fortes no poder, mas fracos de corpo e alma.
Encontramos, támbém, um brilhante Henry Fonda, a fazer o seu primeiro papel de anti-herói. Já não temos o simpático e afável Tom Joad de "Grapes of Wrath", mas sim um frio e gélido assassino profissional, capaz de promover autênticos massacres, de que a carnificina inicial no Rancho é o exemplo máximo. Nesta cena, é brilhante a forma como Leone usa o silêncio para criar um clima de tensão, apenas rompido com os disparos que iniciam o massacre. Tal como é brilhante a aparição de Fonda, que aparece no meio da poeiria, filmado de costas inicialmente com uma câmara que gira à sua volta até parar no seu olhar gélido (um plano capaz de fazer parar o sangue de correr nas veias).
Creio que o verdadeiro motor da acção é Cheyenne (um excelente Jason Robards), o ladrão romântico e herói pícaro. É ele que tem a habilidade de tecer comentários sobre as personagens e de lançar com mestria os momentos de humor do filme (a sequência sobre notas em falso e sobre saber disparar num bar em plena pradaria, por exemplo), bem como o inesquecível diálogo com Jill já no fim do filme.
Em suma, estamos perante um filme onde Sergio Leone desconstrói o Western clássico de Hollywood, fornecendo-nos um carrossel de personagens bem construídas, mas onde sentido cénico e estético predomina. A ver, rever e voltar a ver.
Match Point ?
Devo confessar que, sem saber muito bem porquê, gostei do novo filme de Woody Allen. É certo que o mote do filme é um lugar comum: tudo depende da sorte, coisa que é expressa, desde logo, no plano inicial...
Mas o filme tem muito mais para além disso. Fico-me, apenas pela leve (e fundamental) referência ao clássico "Crime e Castigo" que Chris (maquinal Rhys-Meyers) lê logo no início do filme. Leve, porque apenas vemos a capa do livro e fundamental porque antecipa o complexo de culpa que Chris sentirá por ter assassinado a mulher que amava, Nola Rice (uma madura e deslumbrante Scarlett Johansson).
Para além deste momento marcante, Allen não deixa de traçar um retrato ácido e duro da vida em sociedade hodierna. Já não se vive nem se actua porque se gosta ou deseja algo. Apenas porque é conveniente.
Neste particular, é muito bem conseguida a narração do casamento vazio de Chris, metáfora dos difícieis amores que hoje andam por aí e consequência directa de uma Sociedade Egoísta e Egocêntrica. Só assim se explica e percebe a constante referência às ajudas do pai de Chloe para que Chris possa singrar profissionalmente.
De forma simples e despretensiosa, Woody Allen faz passar diante de nós espécimens de uma Sociedade que todos conhecemos, porque convivemos com ela. Trata-se, pois, de algo meritório, sobretudo porque é contado de uma forma simples e directa, apta a ser percebida por qualquer um.
É certo que não estamos perante o melhor dos filmes de Woody Allen, mas, definitivamente, é um dos melhores que realizou ultimamente. Em qualquer caso, um filme a ver. A comparar com o que por aí se vai estreando, "Match Point" é mesmo bom. Caso para dizer: "Game, Set and Match".
quarta-feira, janeiro 25
Zorba, the Greek
Se pusermos de lado, este último pormenor, abstraindo-o momentaneamente, verificamos que Michael Caccoyannis faz uso de alguns dos ensinamentos dos neo-realistas. Um exemplo: boa parte dos actores é amadora. Mais não é do que a população da ilha de Creta, o que, confere, indelevelmente, maior realismo e credibilidade à história (um exemplo clássico deste recurso é o fantástico "la terra trembla" de Luchino Visconti).
1900 (parte iv - o fim da indústria europeia de cinema?)
terça-feira, janeiro 24
1900 (parte III - Burt Lancaster, reminiscências de "il gattopardo"?)
1900 (parte II - a estética. Algumas obrservações)
Simultaneamente, Bertolucci presta uma grande homenagem ao neo-realismo, porquanto topamos com todo o cenário desenvolvido por cineastas como Rosselini, Lattuada, De Sanctis ou Visconti (verbi gratia, em "Rocco e i suoi fratelli"): crianças descalças, complexos fabris que sobressaem sobre a mole...neste partcular, cumpre salientar a abundância de grandes (e arrastados) planos sobre os camponeses, bem como sobre as ruas da cidade...
Apesar destas influências, Bertolucci não deixa de nos brindar com a sua originalidade e vigor criativo. Permito-me, apenas, salientar o emocionado discurso de Olmo sobre a opressão dos trabalhadores em que, quase sem dar por isso, a câmara gira sobre o orador, que continua o seu discurso, desta feita para os espectadores que acabam por ser "chamados" para o filme.
1900 (parte I - fundamentos políticos)
Amarcord
De hoje em diante, este espaço fará jus ao nome: recordações do cinema de outros tempos, bem como reflexões a propósito do que hoje se vai fazendo. Sempre (espera-se) com um tom crítico, metódico e devidamente ponderado.