terça-feira, janeiro 24

1900 (parte II - a estética. Algumas obrservações)

Robert De Niro, Gérard Dépardieu e Donald Sutherland em 1900


Salvo melhor opinião, creio que o empenhamento ("engagement") político de 19oo é apenas total do ponto de vista estético. De facto, deparamos com inúmeras cenas de levantamentos populares em que a estética de esquerda é omnipresente: camponeses de braço no ar, bandeiras vermelhas, mas o ponto que mais chama a atenção será, certamente, o facto de serem entoadas inúmeras canções de cariz marcadamente político (maxime, a Internacional), contrastando, de forma acentuada, com o fausto e opulência em que vive a família Berlinghieri.
O filme não se resume a este choque visual, dado que nos brinda com alguns quadros bucólicos que não deixaram, certamente, de se inspirar em alguns quadros impressionistas do século XIX. Exemplo: as imagens bucólicas dos camponeses deitados ora sobre um monte ora sobre a palha. Dito de outro modo, até neste ponto, o filme não deixa de "ser pintado em fresco".

Simultaneamente, Bertolucci presta uma grande homenagem ao neo-realismo, porquanto topamos com todo o cenário desenvolvido por cineastas como Rosselini, Lattuada, De Sanctis ou Visconti (verbi gratia, em "Rocco e i suoi fratelli"): crianças descalças, complexos fabris que sobressaem sobre a mole...neste partcular, cumpre salientar a abundância de grandes (e arrastados) planos sobre os camponeses, bem como sobre as ruas da cidade...

Apesar destas influências, Bertolucci não deixa de nos brindar com a sua originalidade e vigor criativo. Permito-me, apenas, salientar o emocionado discurso de Olmo sobre a opressão dos trabalhadores em que, quase sem dar por isso, a câmara gira sobre o orador, que continua o seu discurso, desta feita para os espectadores que acabam por ser "chamados" para o filme.