quarta-feira, janeiro 25

1900 (parte iv - o fim da indústria europeia de cinema?)

Bernardo Bertolucci

Bertolucci, tal como muitos outros realizadores viu a sua obra reduzida na duração (exemplos célebres desta famigerada prática são Lawrence of Arabia de David Lean ou Once upon a time in America de Sergio Leone), uma vez que os estúdios entenderam que o público seria incapaz de assistir a um filme tão grande.
Certo é que esse corte teve também o efeito de trazer um forte ataque da crítica (Bertolucci, após o célebre (e maldito) Último Tango em Paris era o centro de grande polémica), que ou apelidava de realizador militante ou de deturpador da verdade histórica
Todavia, 30 anos passados sobre o lançamento deste polémico filme, verifica-se que tem sido alvo de novas leituras, desta feita bem mais simpáticas e justas. É de crer que essas novas leituras resultarão, muito provavelmente, do lançamento da versão integral sem cortes nem censuras.
Fechando este parêntese inicial, é mister salientar que o lançamento de um filme com tamanha conotação política é o maior dos triunfos por parte de qualquer realizador, sobretudo quando são grandes estúdios a financiar a obra. Basta atentar que dos 6 milhões de dólares de orçamento, a United Artists, a Paramount Pictures e a 20th Century Fox contribuiram com 2 milhões cada uma...
É precisamente este último pormenor que convém salientar: se é certo que Bertolucci marcou, definitivamente, o seu lugar entre os melhores realizadores em actividade (veja-se o recente The dreamers de 2003), também é seguro que mostrou, sem margem para grandes dúvidas, que a Europa é incapaz de se dotar de uma verdadeira indústria cinematográfica.
Exemplos de independência como os da nouvelle vaguei francesa parecem ser "meros" episódios ocasionais (mas com marcas indeléveis na História da 7ª Arte), uma vez que a verdadeira máquina industrial cinematográfica está sediada nos Estados Unidos e não deste lado do Atlântico. Bertolucci, como nenhum outro, demonstrou isso de forma clara.
Concluo salientando também a grande humildade de Bertolucci. Já após ter realizado La comare secca e Prima della revoluzione, não conseguindo obter financiamento para novos projectos, não viu qualquer obstáculo a trabalhar no guião de Once upon a time in the West, em parceria com Sergio Leone e Dario Argento.