terça-feira, janeiro 24

1900 (parte III - Burt Lancaster, reminiscências de "il gattopardo"?)

Com Burt Lancaster desempenhando novamente, o papel de um abastado nobre, a comparação com Il gattopardo de Luchino Visconti é, à partida, quase imediata. Esse imediatismo sai reforçado com os planos iniciais de 1900: a forma de filmar a casa Berlinghieri é, em quase tudo, similar à primeira aproximação (exterior) do palácio d' O Leopardo, o princípe de Salina...
Pondo de lado este pormenor, que não é despiciendo, parece-me ser lícito afirmar que este desempenho de Burt Lancaster, mau grado ser secundário, é um dos catalizadores da acção, uma vez que marca o fim de uma aristocracia romântica, que é susbstituída pelos seus descendentes que, regra geral, apenas são motivados pela perfídia (mais um dos clichés utilizados com mestria por Bertolucci).
Basta atentar no facto de, a dada altura, il padrone recusar-se a tomar as refeições com a família. Se esta o considera louco, o velho aristocrata dá provas de lucidez dizendo ao neto Alfredo: "o meu dinheiro. Só querem o meu dinheiro" e, acto contínuo, "mata" com uma espingarda descarregada todos os comensais, incluindo a sua irmã, uma freira...
O suicídio apenas se dá quando não consegue excitar-se ao ver uma esbelta camponesa. E aqui, já topamos com uma das temáticas clássicas de Betolucci: a vitalidade sexual. Abandonado pela família, restaria apenas o sexo como elemento libertador da existência. Faltando este, já nada haverá a fazer.