Anacronismos
Por motivos vários, dei por mim a contemplar as minhas estantes: curiosamente, a maioria dos escritores e realizadores que as enchem e povoam este Universo já não andam por cá. Emana das minhas estantes um odor de saudade, um vazio profundo e um ligeiro cheiro a cemitério. São poucos os contemporâneos que merecem entrar nelas: Wes Anderson, Herzog, Wenders e Straub no que ao Cinema diz respeito (Jean-Luc e demais "turcos" vivos já estão no patamar de lendas vivas...), Alberto Pimenta, Maria Velho da Costa ou Lobo Antunes nas Letras. Definitivamente, não pertenço ao tempo que me rodeia: à velocidade vertiginosa informação dita "na hora", prefiro a reflexão pausada, pensada e ponderada. À facilidade da tecnologia, prefiro o prazer da reflexão.
É como os senhores que, por exemplo, primeiro teorizaram o Direito ou a Economia: como estavam muito próximos da realidade, descreviam-na na perfeição, sem adornos, sem verbos de encher. Com o Cinema e com a Literatura não é diferente: nada como os criadores de rupturas, os precursores, aqueles que, perante uma certa realidade, foram capazes de dominá-la e dar-lhe novas formas. Apenas graças ao génio. Sem efeitos especiais, sem ajudas da técnica ou de computadores. Ali, nos tempos pioneiros de Grifith ou nos estúdios disformes de Murnau, Lang ou Pabst, jogando com a câmara.
Definitivamente, não fui devidamente apresentado a este Mundo. Como diria o Matt, we're half awake in a fake empire.