sábado, outubro 7

A imensidão do espaço (aparentemente) finito

Fotograma de Lady in the water

Mais do que o solilóquio em tons de fábula que Lady in the water encerra, o que é deveras impressionante no filme de M. Night Shyamalan é o espaço onde se desenrola a acção. O complexo de apartamentos, sendo o território onde decorre toda a acção, acaba por funcionar como o cenário de um filme de câmara, onde a piscina, sendo o centro geográfico deste mapa, é um altar onde se procura a purificação e a libertação. Pelo meio, temos o complexo de apartamentos, curioso mapa onde cada fracção, mais do que mera projecção do seu habitante, é um Mundo apto a ser explorado.

Imponente, este espaço aparentemente finito, acaba por encontrar a projecção, rectius, o seu desenvolvimento numa piscina, que mais não é do que a porta para um Outro Mundo. Para além de ser dos mais curiosos cenários vistos nos últimos anos, a forma como as várias células comunicam, seja através de corredores ou portas, contribui para nos dar um tom de aconchego quase familiar. Algo que tem tudo para ser frio e distante, acaba por dar-nos conforto, e, simultaneamente, faz-nos sentir prisioneiros graças a esses vasos comunicantes. O filme é lucidamente triste, mas este mapa mundi que representa o complexo de apartamentos mostra o toque de Shyamalan enquanto esteta. Acaso fosse mais explorado este pormenor e talvez esta pudesse ter sido, noutros moldes, a recriação do cenário barroco e obsessivo de Le procès de Orson Welles.

11 Comments:

Blogger MPB said...

Se há carimbo a colocar a Shyamalan, não é Spielberg, nem Hitchcock, mas sim como fizeste muito bem WELLES. há uns dias atrás à conversa com o José Oliveira falamos em Welles em relação a Shy, não deixa de ser curioso.
Aquilo que disse é aquilo a que chamam "quixotismo", é ilusão, é realidade, é a vida? É a busca incessante pelo que se deseja, e de certeza não é por não arriscar que Lady in the Water.
O problema é o que chamo de "estigma Shyamalan" (está em desenvolvimento), elevaram o homem a génio, compararam com Hitch ou Spielberg, e como nós sabemos, em Hollywood não há espaço para dois Spielbergs. Como não há espaço para toda a geração weird dos anos 90, então resta cortar o mal pela raiz.

cumprimentos

3:36 da manhã  
Blogger Francisco Mendes said...

Este maravilhoso complexo místico concebido por Martin Childs acaba por funcionar como o prosseguimento da comunidade isolada de "The Village". O filme é pura e simplesmente um dos melhores do ano, na minha humilde opinião. Impressionante a forma como Shyamalan se mantém fiel a si próprio apesar da chuva de pedras.

Continuo convicto que Shyamalan será bem mais apreciado no futuro que no presente. Existe muita camada para ser escavada e contemplada na sua Obra.

9:52 da manhã  
Blogger Lis said...

um outro olhar mas não o único

10:22 da manhã  
Blogger Hugo said...

ne-to, é curioso ver que tendemos a concordar.Será porque conhecemos um pouco da história do Cinema?

Abraço

10:50 da manhã  
Blogger Miguel Domingues said...

Não sei se é por conhecer ou não a História do Cinema, mas não vou á bola com este filme nem por nada. Parece-me sempre perto da desintegração, sempre a correr para o seu final não dando a entender a corrida contra o tempo dos protagonistas, mas a sua própria desintegração. Safa-se o plano final, belo como poucos.

12:04 da manhã  
Blogger Hugo said...

Eu só gosto do belo do cenário. É pena não o Shy não retirar dele tudo o que ele tinha para dar...

12:08 da manhã  
Blogger José Oliveira said...

...acho que a personagem do critico de cinema tambem foi decisiva para a revolta critica quase generalizada...personagem nos limites da caricatura, apresentado como ser que tudo conhece e julga dominar, desprovido de humanismo, muito menos de possibilidade de candura, que olha de cima...viciado pelo "jogo" da critica, etc...

12:09 da manhã  
Blogger Hugo said...

Sim. O crítico é um "must" do filme. E uma farpa monumental do Shy

12:17 da manhã  
Blogger MPB said...

Não sei se é pela História do Cinema, será mesmo pela observação do mundo. Afinal não são coisas tão distantes, mas não domino a história do cinema, mas procuro perceber o que levou a que acontecesse.

Em relação a Lady in the Water, vejo que cada vez mais "6º Sentido" é o filme menos autoral, vejo que O PROTEGIDO e A VILA misturados com a fé de SINAIS resulta num filme deslumbrante. Continuo a dizer não sei se é bom se é mau, mas cheira-me a cinema.
E são filmes como estes que me levam a abdicar da classificação injusta de 0 a 10, é muito bonito, mas pouco cinematográfico.

12:18 da manhã  
Blogger Hugo said...

Sim, claro. Mas que depois de nos pormos a pensar nele (lady in the water) um bocado, os pensamentos fluem rápidos, lá isso fluem.

12:20 da manhã  
Blogger gonn1000 said...

Concordo com o Joseo, o crítico foi uma personagem muito apropriada, fez-me lembrar alguns que pensam que sabem tudo sobre o cinema e a sua história e que só encontram qualidades nos clássicos, vangloriando-se do seu excelso conhecimento a torto e a direito. Bem observado, Shy :)

2:53 da manhã  

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