segunda-feira, outubro 9

O Génio em estado puro


Persona é sinónimo de máscara, de papel social. Basta atentar no facto de, em tempos idos, ser essa a designação da máscara que os actores usavam nas representações teatrais. É, pois, uma máscara, algo capaz de disfarçar o nosso Eu. Daí que Persona de Ingmar Bergman seja um filme sobre esse desdobramento, sobre a projecção do Eu e sobre a manipulação da personalidade alheia. É o filme dos grandes planos dos rostos etereamente belos de Liv Ulmann e de Bibi Andersson, mapas em constante mutação, em virtude dos sentimentos que as vão dominando. Mas é, também, um dos mais acabados exemplos de metalinguagem que, num jogo demoníaco, nos levará a duvidar se nos vimos dentro de um filme, dado que, logo a abrir, vimos o aquecimento de um projector.
Talvez este seja um filme avesso à interpretação, talvez a sequência inicial seja a cristalização de elementos desenvolvidos durante o filme - que redundaria, assim, na elipse perfeita - ou, pura e simplesmente, talvez esta seja uma pura sucessão de imagens que mais não são do que os versos iniciais de um poema belíssimo.
Uma coisa é certa, é mais um dos exemplos da mestria e genialidade diabólicas de Mestre Ingmar Bergman.

7 Comments:

Blogger MPB said...

Quem é quem? Espelho de alma, espelho de carne? será mesmo a questão.
O Cinema esse génio adormecido em estado puro. Nem mais.

Cumprimentos

10:37 da tarde  
Blogger C. said...

Um dos filmes da minha vida e o meu favorito do Bergman! Cinema com C grande :)

1:18 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ingmar Bergman, é sem dúvida um génio.
Há uns anos atrás, teria eu os meus 16 anos, vi um ciclo de cinema deste cineasta no canal 2.
Vi todos os filmes que passaram no ciclo, entre os quais apenas conhecia "Fanny e Alexandre". Ficou-me na memória, por exemplo, "Morangos Silvestres". "Persona" ainda não existia.

1:53 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Uma obra que assinala uma mudança peremptória no rumo da filmografia de Bergman, afastando-o dos diálogos auto-reveladores e direccionando-o numa exploração do meio cinematográfico e da fundura do subconsciente humano.

Um dos melhores dramas humanos da história da Sétima Arte, que ainda encontra espaço para reflectir metaforicamente na relação entre o artista e a audiência.

4:39 da tarde  
Blogger Francisco Nogueira said...

Volto a comentar quando o vir todo. Acontece que 4ª feira passada comecei a ver a dita obra do Bergman, numa versão pirata que já há algum tempo tinha ido buscar à internet. Passavam 40 minutos de filme, eu totalmente embrenhado naquele universo bergman, a deliciar-me com a fotografia magistral e com a beleza de Bibi Andersson e Liv Ulmann, perfeitamente seduzido, quando afinal a cópia estava estragada e nem mais um segundo de filme pude ver. Tenho que juntar uns trocos e ir comprá-lo, está visto.

5:13 da tarde  
Blogger Hugo said...

É de ficar hipnotizado, não é Francisco (Nogueira)?

Francisco Mendes: a exploração dos locais mais recônditos da mente humana já andava pelo Cinema de Bergman? Então que é Morangos Silvestres ou O Sétimo Selo? :-)

Sim. Esta é uma obra ímpar (acima de obra-prima, bem entendido)

6:36 da tarde  
Blogger Francisco Mendes said...

Sem dúvida!
O que pretendia dizer alude à exploração da componente imagética que se coaduna com o subconsciente, bem vincada na memorável montagem inicial de "Persona".
Mas sim... Bergman sempre procurou escavar a mente (e a alma) humana.

8:07 da tarde  

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