Projecção (mais uma)
Ir ao Cinema* é um ritual que formalmente começa no rasgar do bilhete de quem nos indica o lugar e acaba no acender de luzes no fim da película. Ritual formal, porque a sua matéria não acaba, contínua viva na mente do espectador de ocasião que viu, sentiu e viveu dramas alheios e continua a projectá-los na sua vida, aquela do dia-a-dia, da confusão do trânsito, dos prazos urgentes e das alimárias com quem tem de se ir cruzando. Quando o filme é bom, geralmente é-o porque toca o espectador - a intelectualização sobre o que se viu é coisa para se fazer depois se houver vontade - atingindo o recanto mais escondido do seu ser.
Tudo isto, ainda, a propósito do The Darjeeling Limited: a viagem espiritual dos três irmãos fez lembrar o escriba de serviço da necessidade de encontrar-se e purificar o interior que, por ver tanta distorção do Direito, esse trsite que, por vezes, parece um contorsionista de primeira categoria, assemelha-se a um cadáver em decomposição avançada. O reencontro com o Eu, algures na Índia, embalado pelas belíssimas músicas instrumentais fez reavivar projecto antigo: mochila às costas e ala para o Tibete. Rais parta se não é desta. Na pior das hipóteses, a Índia. Afinal, também a serenidade de India: Matri Buhmi sempre me cativou. A mesma serenidade que o corropio diário impede e nega.
* o único que merece tal nome é o de Autor, já se sabe.
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