Europa 51
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Em termos simplistas, tudo se resume ao processo de despojamento e suplício sofrido por Irene (Ingrid Bergman). Tudo parte da tomada de consciência de uma realidade desconhecida: a miséria que pauta a vida dos arredores dos centros urbanos. A par desta estrada para iluminação interior (contrastando com a reclusão num hospital psiquiátric), Rossellini faz desfilar pelo écran muitas das visões que dominavam o continente europeu: desde a visão marxista que falhará ao tomar consciência das condições de trabalho numa fábrica, dando lugar a uma realidade espiritual que servirá de tábua de salvação para Irene, mitigando a dor e o sentimento de vazio provocado pelo suicídio do seu filho.
Mais do que a bondade ou acerto das várias ideologias reinantes, o espectador sai completamente despojado de esperança, uma vez que os ideias fransciscanos não têm qualquer lugar na sociedade moderna, já que quer o capitalismo quer a religião (veja-se a reacção adversa do padre no hospital) não se compadecem com a piedade ou o interesse altruísta. Rossellini filmou, assim, um profundo abismo existencial.
1 Comments:
Como um verdadeiro neo-realista.
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