Chabrol, o cineasta mordaz
Claude Chabrol é, de certa forma, um cineasta singular. Se é certo que o seu humor mítico onde o modo de vida burguês e o novo-riquismo são, desde cedo (o seu humor corrosivo assume-se de forma marcante em Les bonnes femmes), imagens de marca da sua obra - isto apesar de o próprio ter por hábito afirmar que não se interessa por Sociologia, afirmando que apenas situa os seus filmes nos meios que conhece - não é menos certo que as suas melhores obras surgem por volta dos sessenta anos, na década de 1980.
É por essa altura que Chabrol atinge a sua maturidade, oferecendo-nos um conjunto de obras de uma impressionante solidez e consistência. De Masques até ao recente L'ivresse du pouvoir, pudemos ver obras-primas como La demoiselle d'Honneur, Merci pour le Chocolat, La cerémoine ou L'enfer. Chabrol diz não conseguir fazer um filme onde não existam crimes. Com efeito, estamos perante um dos mestres do suspense, onde o mise-en-scène assume papel fulcral e onde a graciosidade dos movimentos de câmara não cessa de impressionar. Aliás, a comparação com Hitchcock é tentadora: não só pelo elevado número de filmes que realizou, mas também pelo facto de as suas protagonistas femininas fazerem ecoar as reminiscências daqueloutras de Hitchcock.
Ver um filme de Chabrol equivale a receber uma aula de Cinema. Tal como é sinónimo de ver uma obra de solidez à prova de bala. Se é certo que parece ter-se acostado ao meio burguês, dando largas ao seu humor sarcástico e corrosivo, também é seguro que é impossível não gostar da sua complexa estrutura narrativa, composta por inúmeras camadas e da mestria com que o suspense é gerido.
3 Comments:
Chabrol é um mestre, não há dúvida. A comparação que fazes com Hitchcock é completamente relevante, vê-se claramente na sua mise-en-scène et nos temas dos seus filmes. Ele, aliás, faz parte dos jeunes turcs que contribuiram para fazer que Hitchcock seja considerado como um autor. Portanto a sua influência é totalmente assumida.
Para quem não viu La Cérémonie, correm JÁ comprar o DVD. Isto é que é cinema.
(Agora que me deixaste mesmo com pena de não ter ido ao Masques!)
Chabrol é um mestre (assim como Truffaut) que tenho sempre dificuldade de encontrar seus filmes. O último que assisti (e já faz tempo!) foi Mulheres Diabólicas. É inegável o seu talento com a câmera nas mãos. Pena que aqui no RJ ele não tenha o mesmo grupo de fãs como ele tem em SP (eu fui no festival de cinema paulista ano retrasado e fiquei admirado de como o diretor tem tantos fãs).
(http://claque-te.blogspot.com): Vôo United 93, de Paul Greengrass.
Moral de ferro - como Lang precisamente, talvez a influência principal, até mais do que o sempre referido Hitchcock, em minha opinião...
Grande cineasta!
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