segunda-feira, janeiro 22

Scoop, ou do déjà vu

Temos Woody Allen fazendo desfilar as suas neuroses, temos (aparentemente) uma nova diva: Scarlett Johansson (para quem são transferidos alguns dos trejeitos do próprio Allen), temos o regresso assumido à comédia, mas, mesmo assim, é impossível não sair da sala decepcionado. Scoop, para além de funcionar como reciclagem de temas recorrentes na obra de Allen - veja-se, por exemplo, a atracção pelo metafísico de The purple rose of cairo, o gosto pelo detectivesco de Manhattan murder mistery - é, também, a confirmação de que Allen é um autor e gosta desse estatuto.
Com efeito, ao longo de 96 minutos, Woody Allen faz com que a sensação de déjà vu nos invada. Afinal, muitos dos tiques e trejeitos que Splendini, perdão, Allen vai tirando da cartola, já são por demais conhecidos daqueles que vão acompanhando a sua obra. Sejamos directos: Scoop é um filme menor na obra do nova-iorquino. Talvez esta seja um consequência do alucinante* ritmo de um filme por ano que Woody Allen pretende manter. O que é certo é que, em Scoop, o argumento é prevísivel. Em demasia. Tudo se resume a uma sucessão de peripécias bem encadeadas - o que mostra a classe de Allen enquanto realizador - que piscam o olho a vários quadrantes: desde o suspense hitchcockiano, ao filme de fantasmas ou à comédia...
Dê por onde der, Woody Allen, em clara contenção de esforço, faz melhor do que a grande maioria dos realizadores da actualidade. Talvez por esse motivo se dê ao luxo de, conscientemente, fazer passear e impor a sua persona. O que, bem vistas as coisas, é um exercício consciente de narcisismo. Afinal, Scoop é uma espécie de síntese do Universo de Allen e, talvez por esse motivo, o enredo do filme seja o que menos importa.
* ritmo alucinante que, em rigor, não o é. Sobretudo se utilizarmos como objecto de comparação o débito lendário de Rainer Werner Fassbinder na realização de filmes: um a cada 100 dias (aproximadamente, claro está).

6 Comments:

Blogger Juom said...

Só mesmo a carga absolutamente excessiva de trabalho para ainda não ter visto uma estreia de Woody Allen... e pelos vistos não será nos próximos dias, mas uma coisa é certa. O teu comentário vai um pouco de encontro àquilo que espero deste filme: longe de ser inesquecível, ainda que divertido e sempre alleniano. O problema de se venerar e conhecer de trás para a frente a obra de um realizador reside precisamente no facto de muitas vezes já não sermos capazes de nos surpreender. Claro que mesmo que o filme fosse uma bosta fumegante (que não será certamente), Woody não deixaria de ser um dos melhores realizadores vivos e dos favoritos pessoais da minha pessoa. Long live the woodman!

11:12 da tarde  
Blogger C. said...

Compreendo o que que pretendes dizer, mas continua a ser difícil, para mim, sair desiludida de um filme do Woody. Sim, eu sei o que me espera; sim, eu conheço aquele mundo, aquelas neuroses e tiques... mas isso não me impede de sentir (quase sempre) prazer em ver e rever a sua obra.

'Scoop' não é uma obra-prima mas não desilude! Como já disse antes, é um Woody cheio de humor e inteligência. Woody é um universo à parte! E eu adoro esse universo :)

12:37 da manhã  
Blogger oh said...

Sou Admirador do Universo de Woody Allen.
E concordo com o que li no teu "post"
Também eu saí decepcionado.
Ri-me, mas decepcionado.
(é possível isto?..é.)

Continuo - sempre - a gostar de o ver na tela.
E é engraçado porque caso o filme não tivesse a participação - Dele - não prestava para nada.

Injusto? Mas foi o que achei.

12:42 da manhã  
Blogger Tiago Barra said...

Sou um admirador do trabalho allen.
Vejo e revejo filmes como «Celebrity», «Radio Days», «Manhattan»,«Everything you always wanted to know about sex»,«Annie Hall»,«Purple Rose Of Cairo», «Interiors»,«Another Woman»,«Hannah and her sisters», «A midsummer night´s sex comedy», etc.
E sempre com admiração, surpresa e delicia...
Mas desta vez ele não andou bem (como já não tinha andado em «Match Point»).
O seu trabalho tem vindo a decrescer...sejamos realistas..o seu último grande filme terá sido o «sweet&lowdonwn»(genial biografia do Emett Ray, em 1999).
A transição de século não lhe fez bem e nem os medianos «The curse of the Jade Scorpion», «hollywood ending» ou Melinda&Melinda» escapam...

(este é um comentário desiludido de um grande fã do senhor Allen).

11:39 da manhã  
Blogger Hugo said...

Sim. É um dos piores filmes da obra de Allen (e não. Matchpoint não é um exemplo menor da obra do nova-iorquino. Bem pelo contrário).

O habitante: sim. Dá para rir com o filme apesar de tudo.

12:08 da manhã  
Blogger Voyages en Suspens said...

também fiquei decepcionado com os dois últimos trabalhos do woody
tanto match point como scoop são previsivéis e demasiado calculados
no match point woody quiz provar que é capaz de realizar um filme sério e cínico
no scoop quer fazer comédia com todos os ingredientes que já usou
ainda preferi o Melinda e Melinda, achei mais ligeiro e engraçado

10:48 da tarde  

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