sábado, janeiro 27

A beleza da indiscrição


É impossível não gostar de Hitchcock. Mesmo quando o Mestre faz uso de um dos mais censuráveis hábitos humanos para construir um filme: a satisfação da curiosidade sobre a vida alheia. É precisamente essa a pedra-de-toque de Rear Window. À semelhança de Rope, este é um filme de câmara. Todavia, aqui a exiguidade do espaço é mitigada, graças às objectivas de uma câmara e a binóculos, de forma estender-se às casas dos vários habitantes de um pátio. Suspense à parte, o que mais causa espanto é a facilidade com que Hitchcock constrói um microcosmos apto a representar a vida tal como ela é. Porque o pátio e os seus habitantes são isso mesmo: arquétipos das várias personagens que pululam no espaço urbano. Enquanto que, paralelamente, essa projecção para o exterior é a sábia fuga da claustrofobia que o espaço exíguo do apartamento de Jeff poderia ditar.
A beleza de Rear Window (uma delas, obviamente) acaba, assim, por ser o ir e vir de perspectiva entre o apartamento de Jeff e o espaço exterior, diluído pelos vários dramas que os habitantes do pátio vivem e que Jeff vai observando, naquilo que é um exemplo máximo de mestria na concepção de um cenário.

11 Comments:

Blogger Nuno Pires said...

O "meu" Hitchcock :)

11:23 da tarde  
Blogger Joana C. said...

Comprei recentemente o DVD mas ainda não tive oprtunidade de o ver. Deve ser bem bom!

11:35 da manhã  
Blogger Daniel Pereira said...

Perfeito.

4:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mais que perfeito.

4:23 da tarde  
Blogger Juom said...

"É impossível não gostar de Hitchcock."

Penso que isto diz tudo. Apesar de ser difícil escolher um favorito, penso que se me apontassem uma arma à cabeça (ou uma câmara fotográfica, já agora), também escolheria Rear Window para melhor Hitchcock de sempre...

8:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se ser voyeur é censurável, então ser cinéfilo é censurável. Como defendia o mestre.

10:10 da manhã  
Blogger Hugo said...

Exacto. Mas, neste caso, eu referia-me à censura social do voyeurismo. Não estava propriamente a pensar no cinéfilo...

10:14 da manhã  
Blogger Luís A. said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

4:45 da tarde  
Blogger Luís A. said...

Um dos grandes 3 momentos da carreira de Hitch, os outros são The Rope e Vertigo. Cinema de alta voltagem e suspense

4:46 da tarde  
Blogger Sam said...

Para além do suspense, voyeurismo será outro sinónimo perfeitamente aplicável à filmografia de Hitchcock.

Os exemplos disto abundam. Quem não se lembra, no clássico PSICO, da sequência em que Anthony Perkins espreita Janet Leigh no seu quarto, através de um buraco na parede?

Cumps.

10:27 da tarde  
Blogger C. said...

Já vi praticamente todos os filmes de Hitchcock, incluíndo os da fase inglesa.

Este é, de facto, um dos maiores! Mas, seguindo a lógica do Paulo, se tivesse de escolher apenas um... seria 'Vertigo'! :)

2:32 da manhã  

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