quinta-feira, janeiro 25

Herr Friedrich Wilhelm Murnau

Se a abrir Der letzte Mann somos colocados perante a questão: Hoje general, Primeiro-Ministro..E amanhã? Sabes o que farás amanhã?, em Herr Tartüff, a final, vemo-nos perante estoutra: E tu? Sabes quem se senta a teu lado?
Atendendo ao facto de ambos os filmes serem contíguos temporalmente, somos assolados, desde logo, pela tentação de considerar que estamos perante um diptíco em que a mesquinhez e a hipocrisia são protagonistas. Em bom rigor talvez não o seja, mas é certo que em ambos somos confrontados com retratos amargos e duros sobre a natureza humana. Em Der letzte Mann era a história do velho porteiro que, após anos de serviço, era colocado a um canto, na casa-de-banho do hotel estendo toalhas aos que dela se serviam, enquanto que em Herr Tartuff temos o retrato da hipocrisia, do falso moralismo e do falso puritanismo. São filmes sobre as máscaras a que recorremos na presença do outro, fazendo-nos passar por algo que não somos - o porteiro que passeia a farda resplandecente num bairro sujo e degradado e o falso padre que se faz passar por santo.
É, de certa forma, o afirmar da máxima do Leviathan de Thomas Hobbes: o Homem é lobo do Homem. Tudo vale desde que seja o Eu a lucrar e nunca o outro. Porque, no Mundo em que vivemos (tal como no de Murnau*), tudo se resume à competição e à satisfação pessoal em detrimento do outro. Duas faces de uma mesma moeda onde a mesquinhez impera, tal como a falta de escrúpulos. O que é um sinal claro de que o seguidismo cego da lei do mais forte tem de, forçosamente, levar-nos a dar um retrato negativo e duro do Homem.
* Rectius, no Mundo destas duas obras, já que, por exemplo, em Sunrise temos um dos mais esperançosos filmes que se conhecem.

1 Comments:

Blogger Hugo said...

Pois. Para mim é o Der letzte Mann a par do Faust. É uma questão de gostos :-)

10:53 da tarde  

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