domingo, janeiro 7

Straub-Huillet dixerunt*

"Entrevistador: Não têm vontade de filmar em Hollywood?
Straub: Não vejo nenhuma razão. Com quem? Hollywood não existe mais! E não me venham com Spielberg ou Coppola! Eles fazem filmes como quem sai de uma escola de cinema. Não conhecem o cinema do seu próprio país. Nunca viram, com olhos de ver, um filme de John Ford ou de Grifith ou de Stroheim. Conhecem Fellini e copiam o último Godard. Não tenho a menor vontade de ser produzido por Coppola e ainda menos pelas companhias de petróleo que mandam actualmente. Quando Hollywood era Hollywood, os produtores não eram companhias imobiliárias ou petrolíferas. Eram pessoas que gostavam de espectáculo, ainda que fizessem algumas coisas contestáveis. Em cada dez filmes, podiam dar-se ao luxo de permitir que Fritz Lang ou John Ford ou Lubitsch trabalhassem em paz. Isto acabou! Spielberg, em RAIDERS OF THE LOST ARCH, faz um erro por plano e por corte. Aquilo é montado como um filme de animação. É lamentável! Ele não sabe sequer montar um filme. E Coppola não me interessa porque tem uma vontade de poder e eu não gosto dessas pessoas! O sonho dele é fazer um filme que seja transmitido por satélite e que 500 milhões de pessoas veriam ao mesmo tempo, no mundo inteiro. Mas em que língua seria esse filme? Seria necessário que fosse um filme mudo. Ele que tenha a coragem de o fazer. Nem Goebbels (...) foi tão megalomaníaco. (..)"
in Jean-Marie Straub, Danièle Huillet, Lisboa: Cinemateca Portuguesa, 1998, pp. 101-102
* in casu (sejamos rigorosos): Jean-Marie Straub dixit

12 Comments:

Blogger Nuno Pires said...

Absolutamente genial!

12:42 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Quem se pode dar ao luxo de fazer um comentário desses é porque tem tudo o quer da vida.

12:57 da manhã  
Blogger Juom said...

Exactamente, Tiago. Pessoalmente, concordo com quase nada do que é dito, mas tal como acontece por exemplo com Bergman, divirto-me com estas opiniões tão extravagantes. Normalmente, é preciso um ego gigantesco para ser um grande cineasta, e ele está aqui bem visível (tal como o está em Coppola ou Spielberg).

1:11 da manhã  
Blogger Francisco Valente said...

O Goebbels era dispensavel...

3:26 da manhã  
Blogger José Oliveira said...

há que relativizar sempre, o exemplo do Bergman é significativo, ele não gosta nada , mas nada de Orsen Welles, de Godard, não vai á bola com Antonioni, etc...pelo contrário gosta imenso de Spielberg, Scorsese, Coppola e imaginem: Soderbergh, achou o "Traffic" espantoso...o Magnólia e o American Beauty...

ou o Herzog, que apesar de todo o radicalismo adora Spielberg, acredita-se?

11:00 da manhã  
Blogger Juom said...

Eu referi o Bergman como outro exemplo de alguém que também não tem problemas (e até deve gostar) em deitar abaixo quem bem entender - haverá algo mais controverso hoje em dia - cinematograficamente falando - do que dizer que Orson Welles é uma seca sobrevalorizada? É uma posição que se conquista com o estatuto, e eu cá divirto-me à brava ao ler declarações como estas.

12:06 da tarde  
Blogger Pedro Ludgero said...

Indecência por indecência, também humildemente digo a minha: Straub é um cinéfilo mais inteligente do que Bergman...

5:47 da tarde  
Blogger Ricardo said...

Hilariante! Claro que nao concordo com tudo o que Straub diz, mas ele nao deixa de ter razao a 100 % em algumas linhas.

“Quando Hollywood era Hollywood, os produtores não eram companhias imobiliárias ou petrolíferas.”

Isto e bem verdade, a maior desgraca do Cinema moderno e quando os homens de negocios comecam a meter o bedelho nas tarefas artisticas. Ao menos, Louis B. Mayer e Thalberg sabiam o que faziam.

Straub cospe demasiado em Coppola tambem. Nao vejo que mal podera ter um filme ser visto por 500 milhoes de pessoas em todo o mundo ao mesmo tempo, quando ocasioes televisivas como o funeral da princesa Diana sao vistas por tantos e nunca ninguem se lembra de chamar fascistas as cadeias de televisao.

1:13 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apesar de tudo os filmes de Straub são um pouco mais interessantes do que estes comentários...e mesmo assim os filmes não são assim tão geniais.

1:44 da tarde  
Blogger Hugo said...

Uzi, sim. Mas convenhamos que comentários destes têm o seu quê de certeiro...

2:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hugo: Sem dúvida, mas o cinema sempre foi uma industria e uma arte de mil vontades e mil motivações. Estas questões sobre os "patrões" do cinema colocam-se sempre sobre a arte cinematográfica porque simplesmente é uma actividade artistica que é cara. Sempre foi necessário muito dinheiro para fazer filmes, e somente nos últimos anos, isso está a deixar de acontecer. O que parece-me despropositado na citação é o tom algo moralista e revivalista que de os antigos patrões da indústria é que eram bons. Não é verdade que Fritz Lang, John Ford ou Lubitsch trabalhassem em paz. Eles travavam bastantes lutas e quando conseguiam os seus objectivos era porque sabiam muitíssimo bem como trabalhar naquele meio, com aquelas pessoas. Muitas vezes no cinema as soluções criativas não surgem de um modo abstracto mas do confronto com as condições de produção.

4:24 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hugo, que é que estas declarações tem de certeiro exactamente? A mim parecem-me um conjunto de disparates disconexos, um destilar de ódio demasiadamente irracional para poder ser sequer tomado a sério.

Cumprimentos,
Mário Oliveira

3:23 da manhã  

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