Sonhos frustrados
Corria o ano de 1953 e Federico Fellini, ilusionista supremo e poeta do amor à vida, brindava-nos com I Vitelloni, obra maior onde os sonhos frustrados e ambições traídas da juventude são elevadas a protagonistas.
Estes vitelloni são Fausto, o eterno engatatão, Alberto, a criança em ponto grande, Leopoldo, o escritor sedento de fama e Moraldo, a voz da consciência deste grupo. Um grupo que procura, constantemente, um rumo para a sua vida. Incapazes de crescer, estes jovens vêm-se enclausurados numa cidade cujo único escape é a vista para o mar ou a festa de Carnaval. Jovens adultos que mais não são do que marionetas nas mãos dos pais (veja-se Fausto a levar tabefes do pai e a ter de casar por vontade deste), rebelando-se através da participação num conjunto de tropelias. Num claro contraste entre uma juventude ansiando - e desesperando - por um qualquer sentido ou fim que os inspire, viverão num dolce far niente, sonhando com o abandono da sua terra natal, dado que a única alternativa que conhecem é representada pelos seus pais, cidadãos zelosos e cumpridores, capazes de assumir as responsabilidades com que se vão deparando.
I vitelloni é, assim, um retrato tragicómico e agridoce de um conjunto de jovens que se recusa a crescer, contribuindo, assim, para o culto do imobilismo. Perante essa imobilidade, resta, apenas, o escape da diversão plena, o inebriar dos sentidos. Mas, fica sempre o sentido de vazio, como uma ressaca. Só assim, por exemplo, se persebe a alegria louca de Alberto, dançando com uma marioneta para, no dia seguinte, cair em si e verificar que a festa, tal como a ilusão criada, foi fugaz, continuando prisioneiro do Mundo que sempre conheceu. Prisão que encontra o contraponto perfeito no mar cuja imensidão o grupo admira. Provavelmente porque podem fabular nas aventuras que se escondem para lá da linha do horizonte.
A mesma contemplação que Moraldo tem perante os seus companheiros. Sempre encostado a um canto, limita-se a ver - tal como o narrador que, em off, vai tecendo comentários sobre o que se passa - de forma dolorosa e melancólica os companheiros, apesar de também alinhar em algumas das travessuras. O mesmo tom nostálgico que decorre do belíssimo plano final em que Moraldo, já no combóio, pensa nos seus amigos. E, do mesmo modo que combóio o afasta da cidade natal, também a câmara de Fellini se move, num travelling portentoso, afastando-se dos restantes vitelloni que antes focara em planos apertados.
Mais do que uma despedida, ficamos com a sensação de estar perante uma qualquer evocação, ficando Alberto, Fausto e Leopoldo a povoar a imaginação de Moraldo. E assim ficarão, ad aeternum, vivendo a realidade que bem conhecem e, simultaneamente, gravando imagens indeléveis na memória de Moraldo. E na nossa.
Estes vitelloni são Fausto, o eterno engatatão, Alberto, a criança em ponto grande, Leopoldo, o escritor sedento de fama e Moraldo, a voz da consciência deste grupo. Um grupo que procura, constantemente, um rumo para a sua vida. Incapazes de crescer, estes jovens vêm-se enclausurados numa cidade cujo único escape é a vista para o mar ou a festa de Carnaval. Jovens adultos que mais não são do que marionetas nas mãos dos pais (veja-se Fausto a levar tabefes do pai e a ter de casar por vontade deste), rebelando-se através da participação num conjunto de tropelias. Num claro contraste entre uma juventude ansiando - e desesperando - por um qualquer sentido ou fim que os inspire, viverão num dolce far niente, sonhando com o abandono da sua terra natal, dado que a única alternativa que conhecem é representada pelos seus pais, cidadãos zelosos e cumpridores, capazes de assumir as responsabilidades com que se vão deparando.
I vitelloni é, assim, um retrato tragicómico e agridoce de um conjunto de jovens que se recusa a crescer, contribuindo, assim, para o culto do imobilismo. Perante essa imobilidade, resta, apenas, o escape da diversão plena, o inebriar dos sentidos. Mas, fica sempre o sentido de vazio, como uma ressaca. Só assim, por exemplo, se persebe a alegria louca de Alberto, dançando com uma marioneta para, no dia seguinte, cair em si e verificar que a festa, tal como a ilusão criada, foi fugaz, continuando prisioneiro do Mundo que sempre conheceu. Prisão que encontra o contraponto perfeito no mar cuja imensidão o grupo admira. Provavelmente porque podem fabular nas aventuras que se escondem para lá da linha do horizonte.
A mesma contemplação que Moraldo tem perante os seus companheiros. Sempre encostado a um canto, limita-se a ver - tal como o narrador que, em off, vai tecendo comentários sobre o que se passa - de forma dolorosa e melancólica os companheiros, apesar de também alinhar em algumas das travessuras. O mesmo tom nostálgico que decorre do belíssimo plano final em que Moraldo, já no combóio, pensa nos seus amigos. E, do mesmo modo que combóio o afasta da cidade natal, também a câmara de Fellini se move, num travelling portentoso, afastando-se dos restantes vitelloni que antes focara em planos apertados.
Mais do que uma despedida, ficamos com a sensação de estar perante uma qualquer evocação, ficando Alberto, Fausto e Leopoldo a povoar a imaginação de Moraldo. E assim ficarão, ad aeternum, vivendo a realidade que bem conhecem e, simultaneamente, gravando imagens indeléveis na memória de Moraldo. E na nossa.
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