Modas
O Cinema tem disto. Cria modas. Traz à lembrança autores já caídos no esquecimento e, também, dá aconhecer autores por vezes desconhecidos do grande público. Neste particular, o novo filme de Brian De Palma, The Black Dahlia, terá a virtualidade de, em Portugal, ter sido o impulsionador da reedição da obra homónima de James Ellroy pela mão da Presença.
Não se trata de estratégia nova. Basta lembrar que Capote originou a reimpressão de A Sangue Frio (In cold blood) obra máxima de Truman Capote ou que A Selva de Leonel Vieira ocasionou a reimpressão d' A Selva de Ferreira de Castro, obra importantíssima em virtude de o estilo jornalístico de Ferreira de Castro ter contrribuído para o escancarar de portas ao neo-realismo em Portugal (pena é que o filme de Leonel Vieira não tenha saído da mediania).
Há que aplaudir a iniciativa da Editorial Presença. Com efeito, A Dália Negra, a despedida em sangue de Ellroy para com a sua mãe, é um romance policial notável, onde Ellroy, com a sua escrita telegráfica e o seu humor cínico e corrosivo nos leva a uma viagem demencial aos bastidores de Hollywood, criticando a típico autoritarismo de algumas instituições americanas e, simultaneamente, dando uma visão quási-heróica da Polícia. Espera-se que, de seguida, sejam re-editados os restantes livros da Tetralogia de Los Angeles: O grande desconhecido, Los Angeles confidencial (já adaptado por Curtis Hanson) e, finalmente, seja traduzido White Jazz, obra onde a escrita de Ellroy atinge a sua maturidade.
Após um hiato temporal de 13 anos em que A Dália Negra surgiu entre nós pela mão da Difusão Editorial, espera-se que também o público adira à obra de Ellroy. À época, apesar de não terem sido feitas referências extensas ao acontecimento editorial - exceptuando, por exemplo, a cobertura dada pela Revista Ler - os livros depressa esgotaram, o que denota sucesso junto do público. Se o Cinema tiver o mérito de criar novos leitores, apesar de tudo, há que nos congratularmos. Basta lembrar que sempre será uma forma de minimizar a perda de leitores e, paralelamente, são mostradas obras que, nem de longe nem de perto, são literatura light.
Concluo espicançando, ainda mais, a curiosidade do leitor: Ellroy é, de facto, um autor na linha de mestres da literatura policial como Dashiell Hammett e de Raymond Chandler.
8 Comments:
Essa é uma maneira - romântica, a meu ver - de ver as coisas. A minha maneira de ver as coisas é que a Presença, como todas as outras editoras, precisam de fazer dinheiro e têm atenção ao timing em que o podem fazer.
Mas seria pior se não o reeditassem, sim.
Eu vou aproveitar e comprar o livro. Só tenho pena de não o conseguir ler antes de ver o filme...
Daniel, sou um romântico por natureza nestas coisas. Se um filme servir para divulgar um grande livro, não me importo que, por trás disso, esteja o obvio intuito comercial.
Wasted, minha cara, já devias ter comprado! :-)
Hugo, o cataclismo aconteceu. Paris fica para outro dia... :(
Li o "Black Dahlia" há alguns anos e estou muito curioso de ver a adaptação de De Palma...
Somos dois, Nuno. Quer porque gosto muito dos livros do Ellroy quer porque apesar de a escrita dele ser visual e, consequentemente, facilmente transposta para o grande écran, o facto de ter uma narrativa totalmente descentralizada, acaba por dificultar essa tarefa.
Eu tenho a edição da Difusão Cultural, comprada num Mercado do Livro...500$00, diz a etiqueta que ainda lá está :)
Harry MAdox: eu tenho as edições existentes da tetralogia em Português (essas mesmo da Difusão Editorial/Círculo de Leitores). E convenhamos que a capa da Dália Negra ganha aos pontos a esta da Presença :-) E, para meu gáudio, já tenho o White Jazz e os livros publicados da novíssima "Underground trilogy".
Helena: olha que é mesmo um grande livro. Vamos lá ver se o De Palma estará à altura da tarefa.
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