domingo, setembro 3

Je vous présente....Iosseliani

Otar Iosseliani

Otar Iosseliani, autor de obras como Les favorits de la Lune, Et la lumière fut, La chasse aux papillons ou, mais recentemente, Lundi Matin, esteve em Portugal há alguns meses. Na altura disponibilizou-se para discutir com os espectadores após a exibição do filme Lundi Matin. Eis alguns dos seus pontos de vista sobre como fazer cinema:
- Nunca se deve adaptar um livro. Se ele é mau, nem sequer vale a pena adaptá-lo. Se é bom, arriscamo-nos sempre a ficar aquém da obra que serve de base ao nosso trabalho.
- Nunca fazer campo, contra-campo.
- Contratar actores desconhecidos. Se contratamos Gérard Depardieu ou Catherine Deneuve, não teremos a personagem A, B ou C, mas sim Gérard Depardieu ou Catherine Deneuve. Mais importante, um actor desconhecido ajuda a passar melhor a mensagem que queremos transmitir.
Iosseliani, autor fortemente influenciado por Jacques Tati, é dono de uma obra original, com um humor corrosivo e com uma fina ironia, pondo a nu muitas das incogruências do ser humano. Os seus filmes, por assim dizer, são uma panorâmica sobre um dado lugar, em que cada frase é uma estocada precisa, dotada de uma suprema ironia, sendo que a forma como esse lugar nos é apresentado denota a precisão do trabalho em filigrana. Os ambientes de Iosseliani são um fresco povoado de personagens por vezes dotadas de algum surrealismo, bem como por algum pessimismo. Mas, mais importante, os seus filmes partem da emoção e de um ponto de vista extremamente humano para serem o libelo acusatório, rectius, retrato mordaz da realidade envolvente.

4 Comments:

Blogger Daniel Pereira said...

Essa do nunca fazer campo/contra-campo é originalíssima. Explicou porquê?

É curioso saber o que pensam cineastas diferentes. Hitchcock, por exemplo, andava sempre à espreita de livros menores para adaptar. Cineastas diferentes, métodos diferentes...

2:09 da tarde  
Blogger Hugo said...

Podes crer que é original. E do que coneço da obra dele (perído pós-Geórgia), ele leva as coisas à letra.

E, por acaso, não explicou porquê. Em qualquer caso, devo dizer que fiquei fã de toda aquela ironia, quer a de Iosseliani enquanto pessoa, quer a de Iosseliani cineasta. E olha que ao primeiro visionamento estranhei um bocado este cinema tão (aparentemente) directo. Mas depois, depois veio o vício.

7:09 da tarde  
Blogger MPB said...

Muito radical, especialmente o campo contra campo, já haviam dito que o campo contra campo quebra as relações entre as personagens, mas temo que não seja essa a razão.

Gosto particularmente da explicação da escolha dos actores desconhecidos, e se nos recordarmos do neo realismo italiano especialmente Sica, essa opção pelos não actores é realmente sustentável pela honestidade e muitas vezes a ingenuidade de não representar para a câmara, ou de não saber como o seu rosto fica mais bonito no ecran, ou seja não há vicios. Actualmente em Portugal temos também Pedro Costa que prefere criar o seu complexo universo filmico apartir de não actores embora em contextos muito diferentes.

cumps

12:40 da tarde  
Blogger Hugo said...

Exactamente. Aliás, Iosseliani cost~uma afirmar que os actores passam a vida a representar e que, a partir de um certo ponto, transportam para a vida real tiques aprendidos em cena. Daí a preferência por amadores.

Cumrprimentos.

12:45 da tarde  

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