sábado, fevereiro 23

A ideia projectada e a corporização

Ontem vi, finalmente, um dos meteoros do Cinema do burgo: Rapariga no Verão, de Vítor Gonçalves. O filme é, de facto, muito bom. Talvez extraordinário (ainda pensarei nisto mais detidamente). Mas o que impressionou mesmo, mais do que o filme, esse jogo de luzes e sombras rodeando almas inquietas, foi a atitude do realizador: modesto, tímido, com dificuldade em falar. Dir-se-ia que a sua função era ser o corpo presente do homem que dá a conhecer a sua obra aos espectadores presentes. Ela fala por si.
Melhor, à pergunta: porque não fez mais filmes? saiu a resposta franca: pelos vistos entre a ideia e a obra corporizada no filme, ficou um grande hiato. A obra não responde à concepção de Cinema do autor que, despudoradamente*, assumiu a incapacidade de exprimir com exactidão no celulóide a sua concepção de Cinema. Houvesse mais gente assim. Ecoou-me logo uma frase ouvido ao Pedro Costa: O Vítor só não faz mais filmes porque não quer. Será este um exemplo de ética?
Em qualquer caso, boas notícias. Vítor Gonçalves fará um filme este ano. Aguardo com ansiedade.
* foi assim que percebi. Se calhar ouvi mal.

9 Comments:

Blogger Andreia Garcia said...

Jogo de luz sombra, de claro escuro, os jogos de escalas, técnicas e linguagem de arquitectura e a forma como esta influencia o cinema. Wim Wenders será a minha escolha nesta análise.
Arranja-me alguma decomentação para esta minha dissertação? Eu ficar-lhe-ia grata.
Parabens pelo blog e pelas escolhas cinematograficas.

6:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Permita-me discordar Hugo, mas o filme não é assim tão bom. Criou-se alguma aura em seu redor como em tudo o que é pouco visto. Tanto quanto foi feito como agora é simplesmente um filme um pouco acima da média, e desconfio que vendo agora bastante envelhecido.
Sobre o Vitor Gonçalves não filmar regularmente, bem, digamos que se o conhecermos podemos constatar que esse facto nada tem a ver com ética.

11:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Permita-me discordar Hugo, mas o filme não é assim tão bom. Criou-se alguma aura em seu redor como em tudo o que é pouco visto. Tanto quanto foi feito como agora é simplesmente um filme um pouco acima da média, e desconfio que vendo agora bastante envelhecido.
Sobre o Vitor Gonçalves não filmar regularmente, bem, digamos que se o conhecermos podemos constatar que esse facto nada tem a ver com ética.

11:09 da manhã  
Blogger Flávio said...

Ou é um exemplo de ética ou de falta de carcanhol.

8:14 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Permita-me também discordar. O filme tem algumas (poucas) coisas interessantes, o movimento dos personagens pelo espaço, alguns planos plasticamente bem conseguidos e mais um ou outro apontamento visual. As sujestões a monstros sagrados são mal conseguidas como no caso da pantera negra a piscar os 2 olhos ao Tourneur, como que a fazer a analogia com a rapariga/mulher fatal, perfeitamente dispensável.
Sobre o Vitor Gonçalves não filmar regularmente, digamos que será mais por saber que lhe faltam algumas capacidades para fazer algo de acordo com o que ele gostaria.

11:42 da tarde  
Blogger Hugo said...

Claro que permito. Desde que as ideias sejam debatidas com urbanidade, estes desacordos são sempre salutares.

Cumprimentos cinéfilos!

11:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Alguém sabe de que trata o seu novo filme? E por onde anda o Vitor Gonçalves? Estou também muito curioso quanto ao seu novo filme...

4:50 da tarde  
Blogger jpp said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8:17 da tarde  
Blogger jpp said...

Tem razão é um grande filme.

8:17 da tarde  

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