domingo, fevereiro 10

Potente

O meu amigo Miguel bem me dizia que o filme de Mungiu era potente, mas, após o visionamento, confesso que as expectativas saíram ultrapassadas em larga medida.

Chamem-lhe Nova Vaga*, mas, acima de tudo, ponham-lhe o substantivo certo: Cinema. Sirva de exemplo 4 luni, 3 saptamani si 2 zile, de Cristian Mungiu, cineasta que neste filme consegue conjugar a austeridade do mise-en-scène com o uso eficaz e inteligente da handycam, permitindo entrar, perdão, sentir a personagem que acompanha. Mais do que um retrato sociológico ou a denúncia de um regime extinto ou mesmo uma tomada de posição sobre a questão do aborto, é um filme sobre a clandestinidade e os seus códigos. Afinal, a saga das duas amigas que se vêm com um aborto nas mãos é uma viagem aos meandros do bas fonds romeno, enquanto, simultaneamente, se vai pondo a tónica nas fracas condições de vida, no mercado negro, et cetera.

Seco. Frontal e directo, não se coibindo, sequer, de nos poupar a ver a prova do aborto que serve de motivo ao filme. Em claro contraste com a secura do estilo, rimando, também, com a austeridade do mundo das amigas Otília e Gabita, fica a intensidade das emoções. Um realismo cru, permeado de momentos a roçar o surreal - como a negociação do preço do aborto - sem nunca cair no exagero. In one word: emotion, como dizia Fuller.

* Será Vaga, porque, cronologicamente, irrompe num período muito próximo, já que, tanto quanto o escriba sabe, não é um movimento dotado de conteúdo programático. Em qualquer caso, uma visão de conjunto de outras obras permitirá avaliar melhor esta faceta

5 Comments:

Blogger Teresa Domingues said...

UM GRANDE GRANDE FILME!!!!

4:04 da manhã  
Blogger Miguel Domingues said...

Folgo em saber que gostaste. Afinal, é um daqueles filmes que merece todo o apoio, pelo petardo que é.

Contudo, deixo duas questão.

Escreves: "Mais do que um retrato sociológico ou a denúncia de um regime extinto ou mesmo uma tomada de posição sobre a questão do aborto, é um filme sobre a clandestinidade e os seus códigos".

Concordando no essencial, pergunto: poderia manter o mesmo efeito não fosse o testemunho de uma época vivida? Ou é essa experiência prática que faz dele um poço de emoções e justifica o seu realismo?

Grande abraço

1:42 da manhã  
Blogger Hugo said...

Pois, sem essa experiência dificilmente seria esta bomba e, de facto, será também ela que justifica o realismo.

2:59 da manhã  
Blogger Carlos Pereira said...

Concordo em absoluto.

2:28 da manhã  
Blogger O Narrador Subjectivo said...

Sem dúvida um filme poderoso, e um dos melhores de 2007.

11:00 da tarde  

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