segunda-feira, fevereiro 11

A simplicidade subtil de Jarmusch

1 - Não há regras: o Cinema é uma forma aberta.

2- Não te deixes apanhar pelos imbecis: as pessoas que financiam os filmes, que os distribuem, que asseguram a sua promoção ou exploração comercial não são cineastas.

3 - A produção deve estar ao serviço do filme

4 - Fazer um filme é um processo colectivo: se não queres colaborar com outras pessoas, vai antes pintar um quadro ou escrever um livro.

5 - Nada é original

Destas regras de outro*, a número 5 é a mais interessante e, simultaneamente, a que melhor define Jarmush, aluno de Ray e adepto confesso de Ozu e Bresson. O seu Cinema é o equílibrio perfeito da modernidade, da tentativa de experimentação e, simultaneamente, o equilíbrio da linguagem formal (clássica?) do Cinema. É algo que se movimenta neste frágil equílibrio, num limbo instável, capaz de conjugar referências óbvias às obras maiores do Cinema e ao movimento punk. Tal como nos filmes do seu Mestre, topamos com vencidos, inadaptados, mas aqui sobressai a quietude, a tristeza e, sobretudo, a complacência. Mais importante, esta regras, formuladas de forma tão seca e simples, tal como o Cinema que corporizam, são depuradas, despidas do excesso. Concentram-se no essencial e, fazendo-o, escondem uma complexidade quase inesgotável, aspecto que  distingue um grande realizador de um vulgar tarefeiro ou de um fanfarrão que faça "filmes".

*adaptadas e, sobretudo, simplificadas (cortou-se, propositadamente, a explanação das mesmas, salvo nos casos identificados (regra n.º 1, 2 e 4).