Berliner Pressekonferenz
Jean-Marie Straub no seu melhor. Aqui (nur auf Deutsch). Um exemplo:
Aber es gibt so viele Filmemacher, die scheinbar Filme mit Leichtigkeit der Bewegung machen, daß ich keine Lust mehr habe, das zu machen. Die anderen machen das entweder besser oder sie haben die Illusion, sie schummeln vielleicht. Und warum sollte noch einer dazu das machen?
A atitudes destas eu chamo ética: ser diferente, lutar por uma concepção de Cinema própria e original. Com Jean-Marie Straub à palavra certa e justa, sucede uma tagarelice é certo, mas, convenhamos, até isso se perdoa quando estamos perante alguém que, conjuntamente o seu outro braço criativo, Daniélle Huillet, sabe dar a devida entoação a uma palavra, respeitando-a, elevando a actriz principal, devidamente conjugada com a austeridade que costuma rodear as personagens. Um contraste flagrante e fascinante, tal como o Cinema deste dínamo verborreico.
5 Comments:
Tradução, se faz favor.
Muito rápida, que em alemão sou mau, muito mau a traduzir:
" Mas há tantos realizadores, que fazem filmes com a aparente facilidade de movimento que eu já não tenho mais vontade de fazer. Os outros fazem isso ou melhor, ou têm essa ilusão, [eles] talvez brinquem. E porque é que isso deve ser feito?"
"schummeln" = tentar brincar com truques (aproximadamente, claro)
Olá Hugo,
Talvez eu não me tenha explicado bem. Esse post não era sobre Straub, de forma alguma, era sobre mim e as minhas próprias contradições. Eu é que oscilo, ora entre a procura da palavra certa, ora numa tagarelice sem fim (vou dar um jeito ao texto a ver se isso fica mais explícito). Straub e Huillet não. Nos filmes, nunca. Não há nada a mais, nenhum desperdício mas também nada em falta, tudo tem o seu tempo necessário, a justa medida — é como se conseguissem chegar a um ritmo orgânico das coisas (daí a sensualidade). Eles são mesmo muito coerentes (e aqui eu quero sobretudo o aspecto físico da palavra) no seu trabalho e também concentrados (o mesmo tipo de concentração que Cézanne praticava frente às maçãs, Saint-Victoire,... até ficar com os olhos vermelhos e doridos ). Às vezes, é certo, Straub, faz uma coisa diferente nas entrevistas, e fala desbragadamente, mas as entrevistas não são o seu trabalho, pois não? Ele próprio — exagerando — diz que nas entrevistas desfaz o trabalho dos filmes. Pois, ele tem muito humor, o que, pela minha parte, vai igualmente a seu favor. Por isso, outra vez: não, não há contradição no seu trabalho, nenhuma tagarelice, e muito menos nada a perdoar. Agradecer, sim, é o verbo adequado.
Portanto, desculpa a confusão provocada, mas a tagarelice que referi não tem a ver com Straub, aliás o link é para um texto de Novalis que explica como um falar por falar pode levar à verdade. Infelizmente não consigo ainda traduzi-lo e por isso ficou em alemão. Mas é preciso entender muito bem o que é isto de falar por falar, não é tão evidente como parece. Por exemplo, em certos textos de Becket, precisamente os mais desconexos, aí está o tal falar por falar, ou na escrita microscópica e dançarina de Walser — bom, é o que eu acho, apenas refiro estes exemplos (de certa forma quase opostos) para não se pensar que "falar por falar" é insistir numa repetição de lugares comuns que não interessam a ninguém. É antes um ir tão tão longe na língua que se perdem as suas regras — muito, muito difícil de alcançar.
Eu acho que todos os caminhos são válidos — se existem? E chega-se (ou não se chega) pela palavra certa, pelo silêncio, ou pela tagarelice. Nenhum é mais do que outro. Isto é que é o centro das minhas contradições: aceito ao mesmo tempo a procura das palavras adequadas e um fugir do sentido das palavras para dentro do seu próprio ritmo. Como podes ver, isso afasta-me um pouco dos filmes de Straub e Huillet, ou pelo menos obriga-me a incorporar outras linhas de rumo. Mas cada um deve seguir o seu caminho, por mais estilhaçado ou contraditório que ele seja; não há caminhos feitos nem caminhos fáceis.
Quando termino o post dizendo "tudo isto dá-me vontade de rir", é de mim que rio. É das nossas próprias contradições que podemos e devemos rir, não das dos outros, que estamos longe de saber ao certo se e como existem. O riso subentende um conhecimento, não é?
Queria ainda voltar atrás e pedir-te por favor que reconsideres o que escreveste sobre Danièlle Huillet. Ela não é o braço criativo de Jean-Marie Straub nem de ninguém. Ela é Danièle Huillet — é uma mulher e faz filmes belos. E o adjectivo "verborreico" também não serve a Straub, aliás, choca-me bastante. Será que estás a dizer aquilo que queres dizer?
Bom, cheguei ao fim. Lamento a extensão deste comentário, mas não consegui ser mais concisa.
cristina
Eu sei, mas adequa-se muito bem ao Straub :-)
(eu faço uma correcção no sítio devido já)
Walt Whitman escreveu: "Contradigo-me? Pois bem, contradigo-me. Sou imenso, contenho multidões."
Digo o mesmo, a nossa retórica está cheia de tagarelice, no meio dos conceitos existe 10 vezes mais ruido, vozes e mais vozes, umas boas e outras que só atrapalham. O Straub fala que se desunha mas vê-se que do alto da sua montanha consegue clarificar a vista e, com isso, os conceitos e as ideias são bastante sinceras e coerentes. Havemos de lá chegar, ou pelo menos morrer a tentar, já é bom sinal.
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