sexta-feira, novembro 23

Imobilismo

J'ai l'air vieux aujourd'hui, diz um desencantado Claude ao ver o seu rosto reflectido num vidro.
Eis a última frase do belíssimo Les deux anglaises et le continent. Envelhecer - tornar-se lento e miserável num qualquer recanto... - sentindo não só o peso das rugas e da pele dura, mas flácida. Ter noção dos nossos limites, fracassos, ganhar a capacidade de avaliar erros. Há, irresistivelmente, um retrato desencantado do fluir do tempo neste filme impressionista de Truffaut: o tempo resume-se a um mero somatório de fracassos consecutivos, que apenas dão lugar à memória agridoce de um passado alegre que fugiu.
Tal como as inúmeras estátuas que vamos vendo e contemplando, Claude limita-se a contemplar o Mundo à volta. Filme do imobilismo, do amor romântico e da descoberta do corpo, funciona assim como voz da consciência do espectador.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Poema

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.

Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.

Alberto Caeiro, 1-10-1917

3:51 da tarde  

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