sexta-feira, novembro 16

Crença e palavra

Em Ordet, Carl Theodor Dreyer faz-nos sentir constantemente e de forma intensa o tempo a passar no tique-taque de um relógio, bem como o vento gélido abraçar-nos. É aqui que nos interrogamos sobre o valor da palavra, mas, sobretudo, do lugar de Deus na nossa vida. Entre a crença cega na palavra impressa na Bíblia e a interpretação cega de um louco que julga ser Cristo. O mesmo louco que crê ser capaz de fazer milagres e provoca discussões sobre a doença do seu espírito em contraste com o corpo sadio. É ele, o louco, que blasfema e, a final, produz o milagre de ressuscitar um ente morto.
Mais do que incidir na palavra, interrogamo-nos sobre a fé, a irracionalidade da crença e a ortodoxia das opiniões alheias. Nunca a fé ficou tão exposta, tal como nunca nos sentimos tão à beira do abismo existencial...mesmo que o ateísmo nos comande. Com Ordet vivemos a mais espiritual das experiências, mesmo que isso seja sinónimo de nos interrogarmos sobre verdades que julgávamos absolutas: se até um morto ressuscita, é possível acreditar que tudo pode acontecer. Basta acreditar.

2 Comments:

Blogger C. said...

Que pena não ter tido a folga :(

É dos meus filmes preferidos do Dreyer (e do Cinema em geral) e gostava mesmo de ter aproveitado para o ver no grande ecrã.

9:59 da tarde  
Blogger Carlos Pereira said...

É dos melhores filmes da história do cinema. Verdadeiro elogio da loucura, verdadeiro abalo emocional sobre a fé e a crença. Arrasador!

6:23 da tarde  

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