O tempo e o lugar
And place is always and only place
And What is actual is actual only for one time
And only for one place"
T.S.Eliot
Deste modo abre Directa, de Nuno Bragança. Se Nuno Bragança me conquistara logo às primeiras páginas de A noite e o riso, em Directa fiquei rendido. Pondo de parte os muitos méritos de Nuno Bragança enquanto romancista, fixemo-nos nos versos de Eliot, pois permitem interrogar-nos sobre a noção de tempo e espaço*. São únicos? Talvez. Acontece que a caixa de Pandora que só um bom filme é capaz de abrir, permite-nos acreditar na intemporalidade: um fotograma talvez não seja apenas um segundo cristalizado na fotografia. É um Mundo à parte, diferente, distante, etéreo. Sobrevive para além do fotograma e povoa a nossa imaginação, transformando-se em algo que impera, subjuga e seduz. O cinema é a verdade 24 vezes por segundo, mas uma verdade insidiosa, já que se vai transformando em verdade à medida que se afunda na memória do espectador. Diminui a fronteira entre memória, real e projecção na tela, para advir, por fusão, aquilo que conta: Cinema.
*Neste particular, só por comodidade ponho de parte a noção de tempo esculpido.
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