As palavras dos outros
Ora nem mais.
Em jeito de glosa - se me é permitido - o Cinema é, no essencial, uma mundividência particular. É um conjunto de imagens (in radice, 24 fotografias por segundo) destinadas a exprimir a visão do seu autor. Daí que o dito "cinema de Autor" seja mesmo o único que interessa. É "o" Cinema, porque não se limita a encaixar, o mais das vezes de forma acrítica, nos convencionais 90 a 120 minutos uma qualquer história banal. Independentemente do estilo do autor X ou Y, o que importa é a sua capacidade de pegar certos temas, glosando-os e desenvolvendo-os. A partir do momento em que temos a sua ambiência, o seu estilo e os seus temas, temos autor e, por maioria de razão, Cinema, de maior ou menor qualidade. Acontece que esta conclusão já depende de factores imanentes ao autor (talentoso ou não) e, também, do gosto e da sensibilidade do espectador: é que, como se sabe, o espectador é dotado de pré-compreensão, daí que dificilmente vá de cabeça vazia para ver um filme. Ou seja, dificilmente é neutro ao que vê.
7 Comments:
Bom texto e uma excelente glosa!
Tenho uma visão mais negativa: infelizmente, o cinema ainda não ultrapassou a narrativa.
O cinema já ultrapassou a narrativa pelo menos desde o Antonioni, só para falar em conversa recente deste blog.
Já para não falar da fronteira entre o cinema de ficção e o documentário, porque isso seria toda outra discussão.
Completamente de acordo novamente.
Por mim, a diferença não está na narrativa ou não, está na forma como o autor consegue criar uma atmosfera própria, um clima, um estilo seu. De resto, há obras-primas de narrativa clássica, ou não (de Griffith a Lynch), e há muitos exemplos interessantes de autores que ou passam ao lado da narrativa ou a contestam. O essencial é haver “autores”, seres que marquem com a sua personalidade as obras que realizam. O resto, julgo serem falsos problemas. Pelos mesmos anos 60 e 70, por exemplo, Visconti, Antonioni e Godard rodavam obras-primas. Com ou sem narrativa.
Belíssimo trabalho no seu blogue. Um abraço.
Obrigado, Lauro.
Não acho que um cineasta seja um 'artiste' ou mais sofisticado que os outros só porque não sabe contar uma boa história. Bem pelo contrário. Contar uma história é a coisa mais difícil (e diria até, sublime) a que um cineasta pode aspirar. Mais difícil para ele e mais gratificante para nós, espectadores. Toda a gente gosta de uma boa história, excepto os críticos mais pretensiosos.
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