quinta-feira, dezembro 7

Uma breve nota sobre Borat

Por mais que defendam Borat - conforme faz com bons argumentos Filipe Homem Fonseca - é conveniente deixar claro uma questão muito simples: Borat não é Cinema. Tal como não é documentário ou ficção. Quando muito é algo que fica no meio de uma ponte, observando as duas margens de um rio.
Borat limita-se a ser a mera expansão da linguagem televisiva, maxime de um qualquer programa de apanhados. O problema prende-se, sobretudo, com os meios utilizados para obter o resultado final. Baseiam-se no engano, são insidiosos e exploram o desconhecimento de terceiros. Isto não é evolução. É o afirmar da ausência de valores. Porque, no fundo, Borat limita-se a fazer tábua rasa de tudo e todos, recorrendo ao palavrão e ao humor banal para passar uma mensagem estéril. Tem de haver limites. Nem que mais não sejam os do bom senso. E em Borat esse é um bem escaso. Para não dizer esgotado.

11 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Acabo de ler o texto do Filipe. EStou absolutamente de acordo com a análise que ele faz do Borat.
Acho que compreendo as tuas reticências, Hugo. Quando vi o filme numa sala a abarrotar, era tangivel a divisão da percepção no público presente. As reacções eram manifestamente opostas. Uns não paravam de rir à gargalhada (também eu). Outros à minha volta expressavam desagrado e não riam, ou de modo muito amarelo 'não é possível, que estúpido, oh não' acho que todos sentiam a necessidade de dar a compreender ao vizinho o agrado ou não agrado.
Não estou de acordo com a tua conclusão de que Borat não é cinema, Hugo. Para mim, cinema é também experimentacão, provocação de ideias e de sensações, e Borat é isso mesmo. Comparo este 'ovni' filmico a propostas como as do Monty Python por exemplo, como já tinha referido. Mas também me faz pensar um pouco nos primeiros trabalhos do Woody Allen 'Take the money and run' 'Sleeper' 'Bananas'
na forma como joga com o levar até o absurdo situações que parecem muito realistas. Digo parecem porque uma parte do espirito subversivo do filme assenta no fato de não termos realmente a certeza de que se trata de apanhados involuntários ou de pura encenação. (a mesma dúvida que sempre temos quando vemos os apanhados clássicos na tv)

2:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sente-se neste Post uma pontinha de censura?! Será isso que; "Tem de haver limites. Nem que mais não sejam os do bom senso", quer dizer? Desculpe-me as minhas reticências Caro Hugo, mas é sempre assim que os tiques repressores começam... O limite do bom senso é simples de definir: basta ter bom senso e não ir ver!

12:52 da tarde  
Blogger Hugo said...

Uzi: quando digo bom senso, refiro-me ao razoável. Não há censura.
Sucede que em Borat o insulto é tanto e vai tão longe, que parece não haver limites. Parece que se pode dizer tudo. (e lembro-me de uma máxima: a minha liberdade acaba onde começa a de outrem).
A forma como Borat procura desmistificar (será esta a palavra?) alguns traços da sociedade americana é insidiosa, porque os interlocutores o mais das vezes desconhecem a verdadeira finalidade da recolha de imagens. Só a conhecem a final, quando assinam uns termos de renúncia ao recurso a tribunais judiciais (waivers) relativos às cenas em que participaram (agora fala o jurista: parece que até nos EUA são de legalidade duvidosa esses waivers). E sem ver Borat, não se pode opinar sobre ele...

Paulo lobo: experimentação de ideias, claro. O meu problema prende-se com um problema a latere (ou não): o do quão longe se pode ir nestes objectos.Confesso que nem eu sei a resposta. Daí que tenha como válvula de escape o bom senso.

1:07 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Hugo, perfeitamente de acordo sobre o poder do insulto.
No entanto, se o filme é mau e insultuoso, também há muitos mais assim. Penso que não se deve perder tamto tempo a falar sobre isso, quando tens referido tantos e tão bons filmes neste Blog. Sinto-me como se estivesse a discutir sobre "conversa da treta" ou "balas e bolinhos". Absoluta perda de tempo.

1:21 da tarde  
Blogger Hugo said...

Game, set and match para Uzi

1:36 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

"Isto não é evolução". Engraçado ve-lo a debitar estas frases absolutas que tanto critica. Goste-se ou não do filme, isso é de cada um.Mas estar "preso" a um formato ao qual chama de cinema ("isto não é cinema")é absolutamente purista e inconsequente. Na altura do "Projecto blair witch" houve o mesmo tipo de discussão e isso foi 1999. O que precisam evoluir são as cabecinhas. Estas sim.

5:02 da tarde  
Blogger Hugo said...

Wellington: O que é preciso é que evoluam os gostos primários. Purista, sim. Cinema e TV não são a mesma coisa. Têm linguagens diferentes. E não vejo nada cinematográfico em Borat: não há a tentativa de captar o real (típica do documentário) nem a exploração de Tempo e Espaço que devem guiar um filme de ficção... a frase está fundamentada: uma evolução não se pode basear no triunfo da ausência de valores. Brincando com títulos até se podia dizer que Borat é "Um triunfo dos porcos".

Portanto, há que ler bem o que está escrito. Dizem que a minha escrita é, por vezes, condensada. E este até é um exemplo disso...e depois não digam que não se habilitam a uma segunda vaga de guerilha.

12:03 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Portanto, os "gostos primários" serão aqueles todos contrários aos teus?

3:50 da tarde  
Blogger Hugo said...

Gostos primários = má Hollywood e humor boçal, por exemplo. Borat é um belo exemplo disso mesmo. Aliás, é por estas e por outras que começo a achar que o Cinema não tem grande futuro em Portugal. Um dia destes sai um post pós-moderno sobre isso...

3:52 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sem querer alargar muito a discussão, lembrei de alguns dos teus textos ao ler isto: http://sound--vision.blogspot.com/2006/12/cinefilia-depois-de-borat-13.html Acho que deverias dar uma olhadela.

2:13 da tarde  
Blogger Hugo said...

Wellington: sim, já conheço. Mas obrigado de qualquer modo :-)

2:18 da tarde  

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