segunda-feira, dezembro 11

A Morte 24 vezes por segundo


Em Lightning over water, para lá do acto de amor e de admiração de Wim Wenders por Nicholas Ray, o que mais impressiona é o retrato desapiedado da Morte. A câmara, de modo implacável, capta o definhar diário, a cada segundo, de Nicholas Ray que, apesar de ser um cadáver ambulante, ainda encontra forças para querer trabalhar num derradeiro projecto: Lightning over water. E, certamente, não haverá plano mais intenso e fantasmagórico do que aquele em que o realizador grita para a câmara, fitando o espectador, Cut! Alguns segundos que parecem uma eternidada em que Ray fita a câmara e vem o epílogo.
Monólogo cortante e pleno de pulsão. Tal como o Cinema de Ray. É essa imagem que terá de se guardar. A do cineasta em luta constante com o studio system e que povoou o écran com personagens em conflito. Inadaptadas, não apresentadas de forma conveniente ao Mundo que as rodeia e acolhe. Um cinema povoado de emoções e pulsões. Tal como o último fôlego do seu autor, que encontrou forças para encarar de frente as câmaras, expondo de forma crua os seus últimos dias.

8 Comments:

Blogger C. said...

Nunca vi. E continuo sem saber se o quero ver.

1:15 da manhã  
Blogger Ricardo said...

Embora aprecie alguns filmes de Wim Wenders, nao gosto dele nem metade do quanto amo Nick Ray.

Com este Lightning tenho uma relacao estranha: por um lado achei asquerosa a manobra vampiresca de Wenders em captar um cadaverico Ray, por outro achei o filme interessante porque me fez lembrar um filme “de hospital”, a maneira de “Near Death” de Wiseman.

Nao e um filme que tenha ideia de rever tao depressa, mas vale a pena apanhar, pelo menos uma vez.

12:26 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

o modo de encarar a morte de acordo com o modo de encarar a vida.
coerências...

12:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"This movie is about a man who wants bring himself all together before die."

Nick Ray

6:31 da tarde  
Blogger Hugo said...

UZI: sim. Mas para se compor, esse homem acaba por descompor, passe a expressão, o espectador. Este Nick's movie, sobretudo o monólogo final de Ray, é fantasmagórico e desconcertante.

3:53 da tarde  
Blogger Unknown said...

Por acaso tenho este filme, comprei-o por causa do grande Nick Ray, que o Wim Wenders há anos que não dá uma para a caixa.

10:02 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Land of plenty" passou despercebido mas olha que é muito bom...

10:19 da tarde  
Blogger MPB said...

"Land of plenty" é bastante bom :D

7:26 da tarde  

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