terça-feira, novembro 21

Coincidências: Godard e Bergman

Fotograma de Le Mépris
À guisa de raccord (falhado) com os bergmanismos do Miguel:
Se é certo que para Ingmar Bergman os filmes de Jean-Luc Godard eram pretensiosos e feitos com o fito de agradar a crítica, há uma pequena curiosidade que deve ser sublinhada: em Persona, Bergman, desbravando os caminhos da metalinguagem levou-nos ao interior de uma câmara. É, pois, uma viagem ao cerne do Cinema, ao seu interior. Ao ponto de a sua brilhante sequência inicial filmar Bergman em acção...ora, é precisamente esse o caminho que Jean-Luc Godard já houvera percorrido anos antes em Le mépris, filme que inicia com a visualização de um travelling a ser filmado. Até ao momento em que vemos o lendário Raoul Coutard focar o espectador, tornando-o personagem principal do filme e abrindo as portas da metáfora.
Se Persona é o filme da metalinguagem, também Le mépris o é. Com uma diferença: o filme de Godard é um travelling - e é nestes momentos que a máxima godardiana o travelling é uma questão de moral parece fazer todo o sentido - que reflecte sobre o Cinema, sobre os seus elementos e sobre a sua influência nas pessoas. Dito de outro modo, enquanto Persona procura afastar essa reflexão com uma elipse suprema, Le mépris não o faz, assumindo sem pejo a máxima de Bazin: Le cinéma substitue à notre regard un monde qui s'accorde à nos désirs. Ambas as obras são duas faces da mesma moeda: o carácter absoluto do Cinema. Porque Cinema é vida.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Li uma vez, num livro chamado "Um filme é um filme" (que emprestei há algum tempo, mas espero reaver), uma frase que seria qualquer coisa como isto:Enquanto Bergman era e sempre foi "o filho do pastor protestante", púbere e ingénuo, Resnais e Godard tinham já atingido a maturidade cinematográfica, porquanto figuravam o cinema como absoluto.

Gosto mais de Bergman, confesso, mas sei que o seu cinema é menos "cinema" que o de Godard...

2:58 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O que será um cinema menos "cinema"?

4:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estava-me a referir a cinema puro, seja ele uma quimera ou não...

É que "Persona" é quase um filme isolado em toda a obra de Bergman...

5:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apesar de concordar consigo, Persona é um filme único na obra de Bergman, sinto que na apreciação DE Ursdens, é muito mais valorizado o conjunto da obra i.e. todos os filmes e menos o valor de cada um dos filmes. Penso que esse tipo de análise generalista é, perdoe-me, um pouco datada, prejudica a valorização dos filmes e o que foi desenvolvido em cada um deles. Por esse prisma de conjunto ou pacote,o conjunto da obra de Godard não é assim tão interessante...

7:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Uzi:

É verdade que generalizar às vezes não leva às melhores conclusões.

Só que, se queremos comparar dois realizadores, neste caso autores, temos que os comparar do ponto de vista da obra. Caso contrário a conversa seria muito mais prolongada...

Aceito a sua crítica e compreendo-a. Tudo o que funciona por "pacote" será tendencialmente falacioso...

9:00 da tarde  
Blogger Hugo said...

Ainda bem que já serenaram os ânimos.

Só um acrescento: a comparação só serviu para tentar mostrar um aspecto similar em filmes de ambos os autores.

12:37 da manhã  

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