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A propósito de algumas reacções - mais de conhecidos do que amigos - às minhas declarações à Y da passada Sexta-feira:
Primo: Teria sido muito mais fácil para mim fazer um blogue que falasse de Direito. Se o tivesse feito, provavelmente teria dado uma prova de que sou uma pessoa terrivelmente mais aborrecida do que aquilo que realmente sou. Para falar de Direito, já tenho a minha profissão e, sobretudo, o Mestrado que estou a fazer. Teria sido muito mais fácil se tivesse feito posts vertendo os inúmeros artigos de diplomas legais. Se o tivesse feito, isso seria sinónimo de preguiça - afinal, copiar preceitos legais é facílimo - e de pedantismo. Pior, seria uma total incapacidade de apartar as águas entre profissão e gostos pessoais.
Secundo: Quanto ao Cinema - e chamem-me anacrónico se quiserem - gosto mesmo da Nouvelle Vague e de cineastas ditos clássicos, comos os Mestres americanos ou os cineastas da Primeira e Segunda Vagas Italianas. Porquê? Porque o Cinema dos anos 60 (e não só, obviamente) respira mais modernidade do que muito do que se faz hoje.Talvez porque, à época, se trabalhava em reacção a outrem, existindo assim uma virtuosa reacção em cadeia. Com exclentes frutos, aliás.
Tertio: E se criticam por falar de La maman et la putain, o mais das vezes é porque nunca viram o filme ou, o que não é melhor, porque acham que o título é impróprio. Nunca gostei de conservadorismo bacoco nem de manisfestações exacerbadas de ignorância. Jean Eustache abordou o meio comunicacional por excelência: a palavra. Desde o palavrão até ao discurso literário. Mas também aborda o vazio das relações. O mesmo que vai imperando nos dias de hoje. Daí a sua actualidade, tal como a da trilogia de Antonioni, que também aborda noutro prisma esse vazio. Em Antonioni impera a alienação. Tal como hoje. Convém não esquecer que esta é a época em que já não há lugar para o outro. Apenas para o Eu. E isso é triste.
Finalmente, este blogue, tal como o autor, procura não ser reaccionário. Apenas visa trocar ideias. Porque é dessa troca que nasce a razão. Ah! Por pouco não me esquecia: o Cinema, para mim, é paixão.
E pronto, desculpem lá qualquer coisinha. O Cinema segue dentro de algumas horas.
19 Comments:
Il y aura toujours des étroits d'esprit...
Curioso, não tive quaisquer reacções do género em relação ao artigo do Y. Que raio! Ainda há gente que pensa genuinamente que gostar de cinema com mais de 6 meses de existência é andar armado ao pingarelho e em erudito? Quanto a isso de La mamam et la putain ser impróprio, às tantas vai-se a ver e são palavras proferidas pelos fãs da pseudo-rebeldia do hip-hop actual, o que fala nas bitches e nos projects e nos pimps porque... bem, porque é cool e tal, não?
Enfim, ainda bem que não tive de enfrentar essas personagens ;-)
Um abraço, Hugo.
É o que dá, por vezes, ter de lidar com pseudo-intelectuais :( O la maman deve-se a falso decoro e a exbição de ignorância. É que não é um filme muito visto...
É a vida!
Abraço!
Excelente Hugo, é sempre com grande prazer que leio os posts de filmes clássicos, anos 60, etc...porque no fundo é também o que mais aprecio...quanto a Eustache, enfim...ainda este ano das mais sublimes imagens e emoções vieram daí, com o grande Garrel...
Quanto ao artigo do Y, aconteceu uma coisa curiosa, foi a 1º vez para aí nos últimos meses que não li...poça, será que ainda vou a tempo?!?
Um Abraço
Não é questão de mais ou menos clássico. É que o cinema só vale precisamente quando hesita entre mamain e putain.
Abraço.
Em primeiro lugar, não li o artigo do Y. Li apenas um excerto visível online.
Sou advogado, e comungo das mesma opinião que tu no que diz respeito à necessidade de escapismo da profissão...
Não nasci nos anos 80, por pouco, nem gosto de me enquadrar em arquétipos do género "cinéfilos de 20 anos", acho que não há idade para ser cinéfilo, porque sê-lo é, meramente, gostar de cinema...
Também já escrevi algumas considerações sobre "La Mamain et la putain", deixo o link:
http://projectordosotao.blogspot.com/2006/06/la-maman-et-la-putain.html
Para concluir, acho que considerar o que quer que seja "impróprio" é extremamente redutor, para não dizer moralista ou desinteligente... A liberdade é condição do progresso, daí o estado do país, parece-me...
Ps: São conceitos como a "cultura Y" que possibilitam uma homogeneidade opinativa. Interessantes as preocupações das utopias negras, perdoem-me a ironia...
Grande abraço Hugo
O artigo inteiro está aqui:
http://chroniqueslisbonne.blogspot.com/2006/11/cinema-e-blogues.html
Aqui vai a minha opiniao, e perdao por nao haver acentos, pois os teclados aqui nos terrenos anglo-saxonicos nao tem nada disso:
Eu ca, se fosse a ti, nao ligava aos que os outros pensam. Nao ha nenhuma aberracao em gostar-se de filmes antigos. O cinema que tu amas, do final dos anos 50 e dos anos 60, era bem melhor do que o de hoje, como diria Pauline Kael, era sexy ver e fazer cinema nesses tempos.
Eu ca, se fosse a escolher uma decada preferida, e em que eu gostaria de ter vivido, teria escolhido uma ainda mais antiga – a decada de 30. So de imaginar poder vir a filmar Joan Crawford, Garbo, Bette Davis, Ronald Colman, Clark Gable… Meu Deus.
Grande abraco
Hugo, às vezes nada como um pouco de sabedoria popular - "os cães ladram e a caravana passa"! ;)
OS cães ladram e a caravana passa. è isso mesmo! Mas, infelizmente, tenho o defeito de ter um tudo nada de mau feitio e, pronto, sai bordoada escrita...
Talvez te interesse: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1649.pdf
Talvez te interesse: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/1649.pdf
Obrigado Nuno, acabei de ler o artigo na íntegra. É menos catastrófico do que pensava...
Catastrófico, sim, é o texto que a lis mandou... Espero que não morra, acho que nunca há-de morrer, mas tão só passar por momentos de muita enfermidade...
Concordo em absoluto com a declaração da Wasted.
Força Hugo!
E viva a Paixão!
Gostei muito de ler o artigo. Parabéns a todos os que nele participaram ;)
JOana: da parte que me toca, obrigado :-)
hugo:
só quero dizer que vou lendo sempre com muito interesse e agrado as tuas analises sobre cinema.
só tenho pena de não conseguir ler tudo, mas fica em reserva para mais tarde
plobo
Vamos lá ver, neste país (e escolas de cinema) parece que é crime gostar da novelle vague.
Parece que existe um complexo qualquer... talvez de inferioridade... que muitas vezes é regido pela incompreenção que muitos dizem compreender.
Tal como dizes existe muita mais modernidade nos cinemas de 60 e 70 do que no cinema actual, assim como existe uma enorme modernidade no cinema de MURNAU, isto porque hoje vi "O ultimo dos homens" e tal como no filme de Murnau, existe muito boa gente que veste o fato de "produtor industrial" e tenta destruir a visão dos outros.
não digo mais, poderia estar aqui muito tempo a distribuir jogo, mas fico por aqui.
Sim eu gosto de cinema, gosto do "cinema passado", (entre aspas por razões obvias) não sou um fanático pela novelle vague, mas de qualquer maneira e para quem não percebe este mundo, uma coisa é gostar e outra é respeitar.
cumprimentos Hugo.
... em Marcha ;)
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