quinta-feira, junho 14

Projecção no Infinito

Por este recanto acredita-se piamente que o Homem, esse bicho gregário, tem o vício de se projectar nos outros, de se rever no gesto alheio e de procurar projectar o seu sentir no ambiente que o rodeia (sendo que o inverso também é verdadeiro). Também por isso - ou talvez não - gosta-se muito da projecção no infinito, "elipse" suprema onde o objeto de estudo/visão é projectado na própria imagem: encaixa-se de forma tão indelével e perfeita que, sozinha, carece de sentido. Talvez por isso se idolatre por estas bandas Le Dernier Métro. É aí que Truffaut retrata o Amor à Vida e à Arte melhor do quem qualquer um dos seus filmes. Do mero ensaio de orquestra, passando à encenação da vida e, através dela, à descoberta da vida que a Ocupação fez esquecer, somos transportados para um mundo de fantasia. Georges Delerue, com uma banda sonora venturosa e poética, é o cúmplice perfeito, tal como o são Deneuve e Dépardieu, que (re)encontram a vida no teatro, descobrem-se e fazem-nos descobrir também a nós. Mais do que a encenação teatral, no palco de Le Dernier Métro é a vida em todo o seu esplendor quem sobe à cena.