La belle noiseuse
Diz-se em La belle noiseuse, de Jacques Rivette, que a pintura verdadeira deve procurar o sangue. De certo modo, é isso que nos é oferecido ao longo de cerca de quatro horas. À medida que vemos Frenhoffer (Michel Piccoli) fazer traços nas telas, vemos também a procura dessa verdade, fazendo com que cada traço feito por um lápis, carvão ou pincel na tela ou no caderno de desenhos se assemelhe ao bisturi de um cirurgião pronto a rasgar um corpo. Porque é também esse outro dos pontos centrais de La belle noiseuse: a exploração da nudez que, a final, é um mero pretexto para alcançar algo mais nobre e abstracto: a verdade. Seja ela qual for.
Na exploração das relações entre modelo e criador, Rivette procura descrever a génese de uma obra-prima. Ao fazê-lo, neste belíssimo filme de câmara, acaba, também, por criar uma obra-prima, confirmando, assim, uma outra certeza: a sua obra é um dos mais belos e secretos tesouros escondidos do Cinema Francês.
Em Rivette, o tempo pára: é esculpido de molde a dar lugar a narrativas fluidas - lassas, mesmo - que, em bom rigor, são que menos conta. Em La belle noiseuse, o que importa é a procura da verdade, de mão dada com o ensaio sobre as relações/reflexões do Cinema sobre a Pintura e o próprio acto de criação.
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