segunda-feira, abril 2

Telurismo (emocional)

Um jovem acariciando a face impressa do seu irmão no cartaz. Rocco, o jovem pugilista que, para salvar o seu irmão Simone, sacrifica o seu futuro, assinando um contrato que o transforma num escravo do seu agente. Rocco, o jovem que nunca se adaptou a Milão, às luzes, às montras opulentas e aos néons sensuais, preferindo sempre o cheiro da vegetação de Lucania, a terra natal e que sempre curou de ensinar ao seu irmão mais novo as virtudes de não esquecer as suas origens.
Em Rocco e i suoi fratelli, de Luchino Visconti, temos uma síntese de todos esses sentimentos no segmento final (quando pouco antes nos foi oferecido um momento operático absolutamente cortante). Luca, que se vê impedido de conviver com o irmão, tem de se resignar a acariciar as résteas da sua presença: os cartazes omnipresentes nas ruas. A esse vazio físico, em contraposição à pujança da ligação emocional, segue-se também, a projecção no vazio das ruas de Milão, um espaço impessoal e semi-desértico. Fica uma sinestesia perfeita, a projecção dos sentimentos para o espaço e, simultaneamente, a metáfora da incapacidade de adaptação à selva urbana. Bello paese mio...

1 Comments:

Blogger peter killer said...

Filme genial.. Ainda que a obra final de Visconti seja bastante mais densa que os primeiros filmes, as sagas de duas horas que são o início da sua obra deixam-me sempre deliciado.. Ainda há umas horas acabei de ver Ossessione e senti a leveza do cinema da mesma maneira que quando vi o Rocco e i Suoi Fratelli.. Basta dizer que alguém que consegue o impossível de realizar um filme como o Morte em Veneza tem de ser muito acima da média..

5:40 da manhã  

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