Da incapacidade de comunicar
Em L'eclisse, de Michelangelo Antonioni, tal como em boa parte da sua cinematografia, a arquitectura joga um papel decisivo. É omnipresente, impõe-se, condiciona o comportamento de todos aqueles que vamos momentaneamente conhecendo. Mais do que um fim, a projecção física dos edifícios é um meio para demonstrar a alienação e a solidão do Homem nas sociedades modernas. Não há lugar para as relações a dois, nem sequer para emoções verdadeiras. Tudo se resume a uma sucessão de gestos monótonos, fruto da repetição quotidiana, demonstrando assim o vazio interior de todos.
Nas palavras de Mayet Giaume, Michelangelo Antonioni, Le fil intérieur, Editions Yellow Now, 1990, p. 62, "Si L'Avventura est l'histoire d'une espérance endeuillé, La notte celle d'une espérance ravagée, L'Eclisse fonctionne comme une rappel de celles-là, pour tenter de les résoudre." A solução, essa, é a dos fantasmagóricos minutos finais: a repetição de gestos quotidianos, mas sem a presença do casal Piero e Vittoria.
3 Comments:
fundamental, quem sabe o "supra sumo" da obra de Antonioni mesmo, sublimação de toda a sua tematica, formalmente prodigioso, incrivelmente actual, moderno, tá lá tudo...
Antonioni é genialidade pura.. O trabalho imagético em o Deserto Vermelho é algo que nunca consegui ver igualado..
Caro Hugo,
Um dia tens de me emprestar os 3 do Antonioni. É daquelas lacunas que tenho mesmo de suprir!
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