A reinvenção do Cinema
"La Nube: C'è una legge, Issione, cui bisogna ubbidire.
Issione: Quassù la legge non arriva, Nefele. Qui la legge è il nevaio, la bufera, la tenebra. E quando viene il giorno chiaro e tu ti accosti leggera alla rupe, è troppo bello per pensarci ancora."
Issione: Quassù la legge non arriva, Nefele. Qui la legge è il nevaio, la bufera, la tenebra. E quando viene il giorno chiaro e tu ti accosti leggera alla rupe, è troppo bello per pensarci ancora."
Jean-Marie Straub e Daniéle Huilet, por assim dizer, filmaram parte dos belíssimos Dialoghi con Leucó (editados em Portugal pela Assírio & Alvim, na tradução de José Colaço Barreiros) em dois momentos distintos: em 1978 naquilo que é a primeira parte de Dalla Nube alla Resistenza e em 2005 com Quei loro incontri. De uma obra para a outra fica uma evolução que não é despicienda: abandonam-se os trajos antigos e passa-se para a roupa de trabalho. Dir-se-ia que Straub/Huillet procuraram adoptar o espírito dos Dialoghi, mostrando, assim, que o texto é uma verdadeira e própria realidade autónoma [leia-se independente da indumentária das suas personagens e dos artíficios externos que as vão decorando].
Diálogos que são altíssimas reflexões metafísicas a partir da mais simples situação quotidiana. Os deuses e as figuras mitológicas repescadas por Pavese falam, discutem, interrogam-se, mas, a final, quedam-se fitando o horizonte longínquo, como que interrogando-se sobre o que o Devir (e os Deuses, claro está) lhes trará. Na tensão entre o temor reverencial para com o desconhecido, para com as divindades e a sensualidade das cores, dos sentidos e dos prazeres, o Cinema reinventa-se, nasce e faz-nos descobrir a nós próprios.
Aqui, o texto impõe-sem marcando a cadência e o ritmo do filme, sendo que tal é feito de forma paradoxal: sob a capa do gesto aparentemente imóvel dos actores, sentimos toda a realidade envolvente (pássaros, vento,...), bem como a respiração de quem vai declamando Pavese. Sensualidade, em estado puro.
Curiosamente, Quei loro incontri é um título que pode funcionar como síntese deste Cinema de altíssima atitude ética: ao longo da sua obra, Straub/Huillet foram-se encontrando (e confrontando) com vários artistas, cabendo aos seus filmes mostrar o resultado desses encontros.
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