domingo, março 9

Pavese

Tão bem que tu me entendes (ou que eu me revejo no que tu escreves):
p.. 89: "Se, nesta selva de interesses que é a terra, dizeis que existe uma coisa boa, e seriam os entusiasmos por um ideal - que ideal, pergunto eu? - porque sois, então, os primeiros a atacar e a apelidar de delinquente quem não possui o vosso ideal?"
p. 120: "Os homens que têm uma vida interior tempestuosa e não procuram um desabafo na palavra, ou na escrita, são simplesmente homens que não têm uma vida interior tempestuosa.
Dêem uma companhia ao solitário e ele falará mais alto do que qualquer outro"
p. 153: "A desventura máxima é a solidão. É tão verdade que o reconforto supremo - a religião - consiste em encontrar uma companhia que nunca falhe - Deus"*
p. 224: "Nunca estivemos completamente sós no mundo. Na pior das hipóteses, tem-se sempre a companhia de um rapaz, de um adolescente e, pouco a pouco, de um homem feito - daquele que fomos".

Cesare Pavese, Ofício de Viver, Relógio d'Água, 2004.

Acabado isto, fiquei com vontade de voltar aos Diálogos com Leucó ou, em alternativa, ao belíssimo Quei loro encontri (que parte de alguns dos Diálogos), de Jean-Marie Straub e Danièlle Huillet. Certamente uma necessidade súbita de pacificação interior e, consequentemente, com a selva em volta.

*Robert Walser, a dada altura d'O Salteador, sugere como sucedâneo/panaceia da solidão o Advogado. Certamente um pequeno delírio walseriano.