A magia do scope
Sim, Luís: o Cadillac e as pernas da Anouk Aimée, mas, acima de tudo, a magnificência (perfeição?) da composição de espaços. Se não me engano, o Nicholas Ray queixava-se, aquando da rodagem de Rebel without a cause*, que era muito difícil preencher espaços neste formato, pois não estava habituado ao formato (até quis filmar a P/B, mas por questiúnculas legais não foi autorizado). No caso de Jaques Demy, a graciosidade da câmara - tributária, provavelmente, de Ophüls, a quem Lola é dedicado -, aliada, entre outras coisas, às formas de Anouk Aimée fazem milagres, tal como as coreografias do El Dorado. E assim andamos entre magia do conto de fadas agridoce e um prodígio de ocupação de espaços. Cinema, tão-somente. Como bónus, é ver scope a P/B. Convenhamos, tem outro charme.
* por cá, João César Monteiro teve problemas similares n'A comédia de Deus e acabou por optar pelo formato "clássico", apesar de existirem 3 curtas-metragens - que, a final, foram "testes"/estudos - filmadas em scope. Filmar em scope deve ser complicado.
4 Comments:
O JCM desistiu d filmar em scope, mas não foi o formato a verdadeira razão. Foi apenas a desculpa para uma das suas clássicas crises criativas...
Filmar em Scope não é nada de complexo, apenas exige cuidados extraordinários na composição. Filmar espaços interiores pequenos pode tornar-se um quebra-cabeças. A ausencia de formas ou de linhas de perspectiva para compor um quadro tão horizontal pod tornar o planos feios, vazios e sem expressão. De qualquer modo cada vez mais devido ao 16:9 vemos mais composições em formatos mais horizontais ganharem força aos clássicos 1:1.3 e ao 1:1.66
O João César Monteiro podia ou não estar numa "clássica crise criativa", mas não foi por "dificuldades" em enquadrar que ele desistiu de filmar em scope, mas pela sua logística. O Scope é filmado com lentes anamórficas, que têm muito mais vidro lá dentro, do que as lentes normais, e que por isso exigem muito mais luz, o que significa mais tempo a iluminar, mais electricistas, etc.
Ora, o João César Monteiro tinha acabado de fazer o Último Mergulho que foi filmado em 16mm (se não me engano), nas ruas à noite com muito pouca iluminação e começou a achar uma perda de tempo a iluminação para anamórfico. Daí ter começado a filmar com o Mário Barroso, com muito pouca luz e tentando o mais possível usar a luz natural (onde isso se nota mais é nos planos junto de janelas em contra-luz do Bassin... e do Vai e Vem).
É verdade Ander, mas salvo erro esse filme começou a ser rodado ainda com a GER como produtor e com uma equipa francesa (incluindo o DF com quem ele se incompatibilizou).
Acho que foi nesse filme que tentou-se fazer um jantar de apaziguamento com a equipa e no meio dos discursos abonatórios o JCM mandou a equipa francesa à merda. Se a memória não me atraiçoa.
Com leitores deste calibre, vale a pena ir escrevinhando :-)
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