A magia do scope II
Entre a recriação da Marlene Dietrich do Blaue Engel, um nome que evoca uma outra personagem condenada à infelicidade e à perdição (Lola Montés, de Ophüls) e uma sequência inicial que sugere À Bout de Souffle (ademais, Cassard refere-se, em dado momento, a um amigo Poiccard que se deu mal com negócios escuros), o que mais impressiona é a sugestão de Lola ser uma prostituta sem tal nunca ser afirmado. Mais impressionante é estarmos num ambiente em tudo similar à Amsterdam, de Jacques Brel e nunca sermos confrontados com a abjecção ou a depravação. Lola é um conto de fadas, um musical que nunca explode (mas é sugerido constantemente), uma dança constante e um jogo de desencontros traçados a regra e esquadro. Desencontros que começam na partilha de nomes, na vivência de situações similares e no facto de as personagens irem partilhando os mesmos espaços sem, por vezes, terem conhecimento da sua presença efectiva em Nantes. Em suma, um exemplo de perfeição construído sobre um equilíbrio instável.
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