segunda-feira, outubro 1

Roleta Chinesa


"Chinesisches roulette termina então com um enigma.(...) Por ser tão atípico é tão surpreendente, mesmo que se prefira em Fassbinder a clareza visceral e a intensidade emocional de outros filmes"
Luis Miguel Oliveira na folha da Cinemateca de Chinesisches Roulette, de R.W. Fassbinder
Sem discordar, diria que muito do que é típico de Fassbinder está em Chinesisches Roulette. Desde o masoquismo, passando pela vertigem do impossível e sem descurar os movimentos de câmara vertiginosos. Acontece que neste filme tudo é levado ao extremo para construir uma distanciação cada vez maior dos sentimentos das personagens: vê-se um pathos atroz, mas não o sentimos. Dir-se-ia que se depurou, perdão cortou o sentimento para se mostrar algo. Não há explicações e mesmo o mais estranho dos planos ou acontecimento resulta indiferente. Acontece que na vida fora do écran também não há explicação para muita coisa e nem por isso damos por nós a pensar no porquê das coisas...
Aliás, talvez a incessante procura de verdade (e vingança?) e confrontação que motiva a filha aleijada seja o exemplo maior do masoquismo que nos rege. A obsessão nasce de uma qualquer disfunção: obsidia e leva à loucura. Talvez o jogo da roleta chinesa seja apenas um alerta, talvez seja um mero retrato irreal da natureza humana. É um filme desgarrado, repleto de puzzles em que apenas há um denominador comum. Bem vistas as coisas, não será essa uma das características da vida em sociedade?