terça-feira, setembro 18

Desconstrução*

Quando se ganha o hábito de ler os ditos clássicos russos - parece que agora é moda ler tais coisas, sobretudo citá-los. Ao que dizem, dá ar de erudição - constrói-se uma determinada imagem da Rússia: grandiosa, imponente, idílica por vezes. Povoada por gentes honradas e de carácter íntegro. E depois lê-se Solzhenitsyn e toda essa imagem cai por água abaixo, dando lugar a um Mundo de espectros habitando escombros.
De certo modo, é o que acontece ao espectador que, em dado momento, cresceu vendo os clássicos americanos das décadas de 40 e 50. De repente veio Godard e o seu À bout de souffle, filme onde não há dois raccords consecutivos "bem feitos" (dizem-me os especialistas), e soçobra a narrativa tal como a conhecíamos. Nasce a modernidade do Cinema e com ela vem a experimentação. Desconstrução muito maior se virmos os primeiros filmes de um não cineasta: Pasolini. Accattone ou Mamma Roma foram feitos por quem não sabia o que era uma objectiva, mas tinha uma noção do que queria: mostrar a realidade sob a forma de poema (in casu, de feições duras, roçando o abjecto). Sempre que o Homem sonha o Mundo pula e avança, dizia Gedeão. Neste caso, o sonho dá lugar a um constante estaleiro de obras onde se experimenta até à exaustão a capacidade de invenção e reinvenção do Cinema.
* Com este título não se tem em mente Derrida.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

caro Hugo,
Pode parecer um preciosismo, mas significa uma grande revolução no Cinema. sobre não haver raccords bem feitos no filme, penso que "BEM FEITOS" mereciam umas grandes aspas.

10:00 da manhã  
Blogger Hugo said...

Com leitores assim, vale a pena.

10:53 da manhã  

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