segunda-feira, maio 26

Confusões de planos

Don Quijote, de Orson Welles

Dei por mim, por mero acaso, a reler o Quijote, de Cervantes no castelhano original, devidamente acompanhado por providencial companheiro de leitura: Vida de Don Quijote y Sancho, de Miguel de Unamuno. Num pequeno ensaio que abre a obra, El sepulcro de Don Quijote, lê-se esta actualíssima máxima:
“(...)Esto es una miseria, una completa miseria. A nadíe le importa nada de nada. Y cuando uno trata de agitar aisladamente este o aquel problema, una u outra cuestión, se lo atribuyen o a negocio o a afán de notoriedad y ânsia de singularizarse.
No se compre aqui ya ni la locura. Hasta el loco créen y dícen que lo será por tenerle su cuenta y razón. Lo de la razón de la sinrazón es ya hecho para todos estos miserables. Si nuestro señor Don Quijote resuscitara y volviese a su España andarán buscándole una segunda intención a sus nobles desvaríos.(…)”

Indirectamente, Unamuno aponta um dos grandes problemas de todos aqueles que tentam ou tentaram levar Quixote ao écrã: a tentativa de narrar de forma as aventuras fantasiosas desta personagem que se vai passeando na ténue fronteira da realidade e da fantasia que habita a sua mente parece ser avessa ao Cinema, seja na sua vertente puramente fantasiosa, seja numa vertente puramente realista, dado que D. Quixote é, precisamente, a tangente que une e separa o mundo real do imaginário subjectivo, unindo, confundindo e mesclando este universos complementares.
D. Quixote é, por si só, uma personagem propensa a ficar bem em qualquer plano, tal é a imponência da sua figura. Saber ligar com conta, peso e medida os vários episódios das suas desventuras é a pedra-de-toque e o desafio supremo de todos os que se lançam à adaptação.